
Esse é um debate que já ocorre há mais de uma década, mas tem se intensificado na medida em que as mudanças climáticas se fazem sentir de forma mais acentuada na vida das pessoas, nas configurações sociais e nas relações de produção
Por Norian Segatto / com informações CUT
Nos dias 7 e 8 aconteceu na sede da Confederação Sindical das Américas (CSA), a oficina “Transição Justa e Futuro do Trabalho no Brasil”, evento que contou com a participação de trabalhadores/as de diversos ramos, entre eles, os petroleiros.
A proposta foi discutir como mudanças tecnológicas impactam o meio ambiente, e o quanto isso irá afetar o mundo do trabalho nos próximos anos. Para o secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, “os processos irão mudar e com isso postos de trabalho serão fechados, mas outros serão criados. E as oportunidades que vão se abrir tornam urgente a adaptação para assumir esses novos empregos, mas que devem ser de qualidades e com direitos. E este será nosso papel, não podemos deixar que os trabalhadores e as trabalhadoras continuem sofrendo as consequências desta situação enquanto a concentração de renda e os lucros de grandes empresas que, inclusive, cometem crimes ambientais, só aumentam”.
Esse é um debate que já ocorre há pelo menos uma década, mas tem se intensificado na medida em que as mudanças climáticas se fazem sentir de forma mais acentuada na vida das pessoas, nas configurações sociais e nas relações de produção. Quando esse tema, que é complexo por si, encontra um governo retrógrado, que coloca a preservação do meio ambiente em segundo plano à luz do lucro das empresas, nega desmatamento da Amazônia, o aquecimento global, o efeito estufa entre outros, o quadro se torna mais urgente e problemático.
Petróleo e meio ambiente

O diretor do Unificado, Auzélio Alves, apresentou um panorama sintético de como o setor do petróleo afeta o meio ambiente e citou como exemplo a exploração de petróleo na região amazônica. “Nosso trabalho tem grande impacto ambiental, temos de cuidar para que a exploração dessa riqueza não tenha efeitos negativos na biodiversidade, no ecossistema de rios, que poderá comprometer o abastecimento de água em um futuro próximo. No pré-sal, temos que cuidar para não ocorrer uma tragédia no mar, como vazamentos que já aconteceram em algumas partes do mundo com grandes prejuízos para a natureza”.
Segundo o dirigente, a sofisticada tecnologia utilizada nessas explorações minimiza os riscos de danos ambientais, mas afeta diretamente o nível de emprego. “A automação reduz os postos de trabalho, hoje, as plataformas são operadas com número cada vez menor de trabalhadores e isso causa também um desequilíbrio social”, comentou durante a oficina. Além de Auzélio, participaram da oficina os diretores Fernandes e Geraldinho, de Campinas
E o que os sindicatos têm a ver com isso
A resposta a essa pergunta é: tudo! Além de estudos da OIT e da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), discutir a “transição justa” é necessário para garantir o respeito aos direitos humanos e dos trabalhadores frente à devastação empresarial (a Vale é apenas uma das trágicas protagonistas disso), às novas tecnologias e às mudanças climáticas.
Ao impactar o modo de produção, essas mudanças afetam, também, a qualidade dos empregos e os direitos trabalhistas. A preocupação de ter trabalho decente em nível mundial é um debate que o movimento sindical vem fazendo há, pelo menos, quase duas décadas, quando se constatou que o avanço de políticas neoliberais tinham forte tendência na precarização do trabalho.
O aumento significativo das terceirizações é um exemplo dessa política. “Com os governos Temer e Bolsonaro, a tendência é aumentar muito a precarização do trabalho. Hoje, em cada rua que você anda, você encontra esse ‘trabalhador do século 21’, um moleque em uma moto velha ou bicicleta, entregando uma pizza de um restaurante que ele não trabalha, chamado por um aplicativo onde ele também não trabalha, ganhando pouco, trabalhando muito e sem nenhum direito. É isso que queremos”, indaga Auzélio.