No aniversário de cinco anos de uma das maiores greves da categoria, devemos celebrar, sim, mas também ter a consciência de que ainda há um longo caminho de reparação pela frente

Por Albérico Santos Queiroz Filho*
A maior greve dessa geração foi motivada pela força da compaixão, expressa em diversos atos de solidariedade. Um momento histórico marcado por um “basta” aos recorrentes ataques contra a categoria, tanto coletivamente quanto individualmente. Perseguições, ameaças e humilhações faziam parte da rotina de trabalho, levando centenas de trabalhadoras e trabalhadores ao adoecimento mental. E aqui faço questão de colocar as trabalhadoras na frente, pois foram as mais afetadas pela política de gestão de “comando e controle” implementada pela Petrobrás nos tempos sombrios.
Durante a greve, a categoria petroleira pôde ver com muita clareza o quão perverso um gestor pode ser. Enquanto cortavam água, energia e comida na sala ocupada pela FUP no Rio de Janeiro, nas bases mais distantes, como em Três Lagoas, ousaram ao ponto de mentir e forjar um relatório classificando os grevistas como “agentes de ameaça” em uma greve pacífica que contou com a presença de nossas famílias, inclusive de nossas crianças.
A greve nos trouxe um extrato do que era a então gestão da Petrobrás, sendo algo tão gritante que a empresa precisou alterar as competências de um gestor, passando a exigir tratamento humano. Compreendam: se tem placa, tem história, e mudanças como essa mostram que ainda temos um longo caminho pela frente. A história nos ensina que, se não tratarmos os problemas do passado, eles voltarão imediatamente; ao mais silencioso apito de cachorro, estarão todos de prontidão para pôr sua perversidade na ordem do dia.
Eles ainda estão lá, esfregando na nossa cara que a realidade é só um detalhe no jogo do poder, o mesmo que no passado puniu e humilhou, hoje apresenta o arquétipo do gestor humanizado e exemplo de retidão. Mas o passado existiu e não esqueceremos dos que oprimiram e se deliciaram em todas as oportunidades da tirania que o poder viabiliza. Nós ainda estamos aqui, e lutaremos até conseguir.