Greve de 2020: é necessário tratar os problemas do passado para não se repetirem

No aniversário de cinco anos de uma das maiores greves da categoria, devemos celebrar, sim, mas também ter a consciência de que ainda há um longo caminho de reparação pela frente

passado
Se não mudarmos efetivamente a lógica da empresa, ao mais silencioso apito de cachorro, estarão todos de prontidão para pôr sua perversidade na ordem do dia (Foto: Marcelo Aguilar)

 

Por Albérico Santos Queiroz Filho*

A maior greve dessa geração foi motivada pela força da compaixão, expressa em diversos atos de solidariedade. Um momento histórico marcado por um “basta” aos recorrentes ataques contra a categoria, tanto coletivamente quanto individualmente. Perseguições, ameaças e humilhações faziam parte da rotina de trabalho, levando centenas de trabalhadoras e trabalhadores ao adoecimento mental. E aqui faço questão de colocar as trabalhadoras na frente, pois foram as mais afetadas pela política de gestão de “comando e controle” implementada pela Petrobrás nos tempos sombrios.

Durante a greve, a categoria petroleira pôde ver com muita clareza o quão perverso um gestor pode ser. Enquanto cortavam água, energia e comida na sala ocupada pela FUP no Rio de Janeiro, nas bases mais distantes, como em Três Lagoas, ousaram ao ponto de mentir e forjar um relatório classificando os grevistas como “agentes de ameaça” em uma greve pacífica que contou com a presença de nossas famílias, inclusive de nossas crianças.

A greve nos trouxe um extrato do que era a então gestão da Petrobrás, sendo algo tão gritante que a empresa precisou alterar as competências de um gestor, passando a exigir tratamento humano.  Compreendam: se tem placa, tem história, e mudanças como essa mostram que ainda temos um longo caminho pela frente. A história nos ensina que, se não tratarmos os problemas do passado, eles voltarão imediatamente; ao mais silencioso apito de cachorro, estarão todos de prontidão para pôr sua perversidade na ordem do dia.

Eles ainda estão lá, esfregando na nossa cara que a realidade é só um detalhe no jogo do poder, o mesmo que no passado puniu e humilhou, hoje apresenta o arquétipo do gestor humanizado e exemplo de retidão. Mas o passado existiu e não esqueceremos dos que oprimiram e se deliciaram em todas as oportunidades da tirania que o poder viabiliza. Nós ainda estamos aqui, e lutaremos até conseguir.

*Albérico Santos Queiroz Filho é petroleiro na Termelétrica de Três Lagoas e diretor do Sindipetro Unificado.

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