Em entrevista ao Sindipetro Unificado, a presidenta do Sindicato dos Bancários de Limeira, Ivanice da Silveira Santos, discute o atual cenário enfrentado pelos trabalhadores do ramo financeiro
Por Guilherme Weimann | Revisão: Marcelo Aguilar
Os bancários, trabalhadores do setor financeiro, atualmente são aproximadamente 465 mil. Entretanto, apesar de ainda formarem uma das maiores categorias do país, eles têm diminuído significativamente o seu contingente nos últimos anos. De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o setor fechou 6.315 postos de trabalho somente em 2023.
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“Estamos enfrentando mais uma grande transformação do mundo do trabalho, atualmente chamado de ‘mundo do trabalho 4.0’”, aponta a presidenta do Sindicato dos Bancários de Limeira, Ivanice da Silveira Santos.
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Além deste novo desafio, a sindicalista também salienta outro que tem sido enfrentado há muitas décadas: “Atualmente, já existem muitas mulheres gerentes gerais, mas no alto escalão a presença feminina ainda é muito rara”. E, além disso, os salários das bancárias são 23% menores do que os dos homens.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Você poderia contar um pouco da sua trajetória pessoal e profissional? Quando e em qual instituição ingressou no setor bancário? Desde quando começou a se engajar no sindicalismo?
Eu sou bancária desde 1985. Entrei no banco BCN, que depois foi comprado pelo Bradesco. Mas sempre participei, desde a minha juventude, de diversas lutas. Apoiei a luta pela terra, atuei nas Comunidades Eclesiais de Base. Minha mãe e meu pai me ensinaram a lutar e eu sempre estive envolvida nos movimentos sociais, pelo direito à moradia, pelo direito dos trabalhadores e trabalhadoras de uma maneira geral. Antes de me tornar bancária, trabalhei no comércio, em farmácia, quando pequena vendi bolinho na rua, trabalhei em loja de cosméticos.
Em 1998, a Fátima [Marina Celin, ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de Limeira] me convidou pra fazer parte da chapa do sindicato e decidi vir para a luta. E até hoje estou aqui. Fui liberada, em 2001, para atuar [exclusivamente] no trabalho sindical, e desde então atuo junto aos trabalhadores e trabalhadoras, não apenas na defesa dos bancários e bancárias. Como somos cutistas, seguimos a lógica do sindicato cidadão, de atender não apenas à categoria, mas a todos àqueles que precisam. Atuamos nos bairros, nas comunidades, nos conselhos de saúde, educação, alimentar e da criança e do adolescente. Temos uma trajetória muito participativa.
Há 30 anos, o Sindicato dos Bancários de Limeira é presidido por mulheres. Como foi construída historicamente essa liderança feminina?
Até hoje, nós tivemos dois presidentes [homens], o [Luis Carlos] Pierri e o Fabio [Antonio Zuntini]. Depois, foram só mulheres, a Neide [Gonçalves Mansur], a Fátima [Marina Celin], a Dalva [Radeschi], a Ana [Lúcia Ramos Pinto] e hoje eu, que já fui secretária-geral por três mandatos, estou como presidenta. Eu tenho muito orgulho de fazer parte deste sindicato.
Nós sempre tivemos um protagonismo das mulheres e espero que continue assim. As mulheres sempre estão à frente. É um orgulho imenso fazer parte dessa história, pela liderança de estar representando as mulheres. Mesmo com todas as dificuldades, por ter que conviver com dois, três trabalhos… sair do sindicato e ainda ter trabalho em casa. Mas nós sempre lutamos pelo relacionamento compartilhado, essa é uma luta muito grande que fazemos, inclusive com a família. Graças a Deus que meu marido é bem compreensivo, ele entende a luta. Claro que temos debates, mas são debates de construção.
Atualmente, as mulheres representam cerca de 50% da categoria no setor bancário, mas ainda possuem salários 23% menores, em média, do que dos homens – apesar de serem mais escolarizadas. Como tem ocorrido esse debate por igualdade de gênero dentro da categoria?
Infelizmente, ainda não conseguimos alcançar direitos iguais. Porque nós trabalhamos igual [aos homens], mas, infelizmente, dentro do sistema financeiro, existe essa diferenciação salarial. Nós vivemos sob o machismo. É preciso romper essa desigualdade que existe, e a estamos rompendo. Atualmente, já existem muitas mulheres gerentes gerais, mas no alto escalão a presença feminina ainda é muito rara. Então temos problemas muito sérios. Fazemos esse debate constantemente em todos os espaços aos quais temos acesso, nas agências, por exemplo. Sempre buscamos mostrar os direitos das mulheres e valorizar a capacidade da mulher. A luta é permanente para alcançar a igualdade de oportunidades e a igualdade salarial que queremos.
Nos últimos anos, o setor bancário tem fechado milhares de postos de trabalho – somente em 2023, foram 6 mil. Como os sindicatos têm encarado esse cenário?
A questão da eliminação de postos de trabalho é um desafio muito grande para nós. Porque, de fato, a categoria bancária está diminuindo. Nós fazemos uma luta muito grande de mostrar a importância do profissional, do ser humano. Sabemos que essa mudança se deve ao mundo digital. Lá atrás, nós fizemos uma luta durante a automação, depois discutimos o banco do futuro e agora estamos enfrentando esse cenário do mundo digital. Novamente, estamos enfrentando mais uma grande transformação do mundo do trabalho, atualmente chamado de ‘mundo do trabalho 4.0’. Porém, sabemos que o ramo financeiro não diminuiu [na proporção do fechamento de postos de trabalho], já que as cooperativas estão aumentando e as financeiras pequenas também.
Temos um desafio muito grande na representação dos trabalhadores e trabalhadoras dos bancos digitais. Nós temos discutido bastante com o Ministério do Trabalho e Emprego, porque eles estão classificando esses trabalhadores em outros ramos, que não o financeiro. Nós adequamos nosso estatuto lá atrás, devido a essa questão da transformação do setor, justamente para ter a representatividade desses trabalhadores e dessas trabalhadoras. Mas temos ainda esse desafio muito grande, de conseguir representar esses trabalhadores.
Nos últimos anos, a categoria bancária realizou uma série de protestos contra a política monetária. O que vocês defendem para a área?
Essas manifestações referentes à questão monetária são justamente para que os juros baixem e para que as pessoas tenham acesso a um crédito justo. Para que a economia melhore, como um todo. A política monetária precisa caminhar junto com o projeto do governo. Da forma que está sendo conduzida a política monetária, quem se beneficia são apenas os banqueiros. A taxa Selic precisa baixar, não dá pra continuar da forma que está.