Depois de entregues à iniciativa privada, a inglesa BP foi responsável pelo maior derramamento de petróleo do mundo e a russa Lukoil por um acidente que causou a morte de três trabalhadores
Por Andreza de Oliveira
Nas últimas semanas, a ameaça de privatização da Petrobrás ganhou força nos discursos de integrantes do governo, incluindo o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
Atualmente, a Petrobrás é uma empresa de economia mista, com 36,6% de suas ações pertencentes à União – que representa o governo – e 64,4% aos acionistas privados, brasileiros e estrangeiros. Dentre os modelos de exploração de petróleo, além do misto, existem o privado e o completamente estatal.
Ao redor do mundo e em diferentes momentos históricos, investidas semelhantes levaram empresas do ramo à privatização, como foi destacado pela reportagem da BBC. No Reino Unido, a British Petroleum (BP) foi fundada como uma companhia privada em 1909, mas em 1914 o governo local optou pela sua estatização, modelo em que permaneceu até 1979.
Leia mais: Petrobrás: oposição vê dificuldades para Lira emplacar PL de privatização
Com a posse da primeira-ministra Margareth Thatcher à época, entretanto, o Reino Unido passou por uma série de privatizações. A BP foi uma dessas empresas, privatizada pela segunda vez no de 1979 em um processo feito em partes e que durou até 1987.
O aumento do lucro é um dos elementos ressaltados pelos defensores da privatização, já que a empresa passou de US$ 1 bilhão de déficit no ano de 1992 para US$ 5 bilhões de superávit em 1997. Porém, para atingir tal número, a companhia optou pela redução de quase 60% do quadro de trabalhadores da BP. Foram demitidos 76 mil funcionários de um total de 129 mil, segundo o livro “The Org: The Underlogyc of The Office”.
Em 2010, a companhia também protagonizou o maior vazamento de petróleo da história. Foram 5 milhões de barris de óleo derramados no oceano, atingindo cinco estados dos Estados Unidos. Meses antes, a explosão de uma plataforma da empresa no Golfo do México já havia matado 11 funcionários da companhia.
Leia também: Privatização: estudo aponta que metade dos brasileiros é contra a venda da Petrobrás
Na Rússia, a maior empresa privada de petróleo do país, a Lukoil, foi fundada em 1991 a partir da junção de três estatais que estavam localizadas na Sibéria. Em 1993, entretanto, a empresa foi privatizada.
Sendo uma das maiores do mundo e segunda maior petroleira russa, em 2016 a Lukoil protagonizou um acidente que provocou a morte de três funcionários e deixou outros cinco feridos.
Também na Rússia, a Gazprom foi privatizada de forma semelhante à Lukoil, mas retornou ao poder estatal nos anos 2000. Atualmente, por meio do gasoduto Nord Stream, a empresa é responsável por 60% do fornecimento de gás natural consumido na Europa.
Reestatização
Segundo um levantamento da Universidade de Stanford, 73% das reservas de petróleo no mundo são de origem estatal. Nesse modelo de exploração, o estado detém todas ou a maior parte das ações da empresa.
Como exemplo de controle completamente estatal, na Argentina a petrolífera Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) foi fundada em 1922, sendo a primeira estatal do ramo verticalmente integrada da história. Em 1999, a companhia foi 57% vendida para a espanhola Repsol – esta, responsável pelo maior derramamento de petróleo da história do Peru no início deste ano, com aproximadamente 6 mil litros espalhados pela costa do país.
Leia também: PEC do Estado de Emergência pode abrir espaço para privatização da Petrobrás
A YPF foi totalmente reestatizada em 2012, enquanto Cristina Kirchner ocupava a presidência do país. Na época, um acordo de US$ 5 bilhões precisou ser firmado com a Repsol pela expropriação de ações. Economistas apontaram que a espanhola não investia adequadamente na exploração argentina.
Na Venezuela, ocorreu um caso semelhante. A Petróleos de Venezuela (PDVSA) foi fundada em 1976 em decorrência dos processos nacionalistas pelos quais o país passava.
Em 1990, durante a “abertura petrolífera” do país, mais de 60 empresas privadas do ramo apareceram na Venezuela. Anos mais tarde, em 2009, o governo venezuelano optou pela nacionalização dessas empresas e integrou mais de oito mil trabalhadores à PDVSA, em um plano colocado em prática desde 2006, durante o governo de Hugo Chávez.