Aulas do curso de direção para carros da empresa possuem teor machista e reforça estereótipos que dificultam diariamente a vida das petroleiras em uma companhia majoritariamente masculina
Por Andreza de Oliveira
Destinado a trabalhadores de diversas unidades do sistema Petrobrás em todo o país, falas de parte do treinamento de direção, obrigatório aos petroleiros que atuam em áreas operacionais e que fazem uso dos carros da empresa, incomodaram alguns funcionários pelo teor machista e sexista das aulas.
“Se você tem o hábito de dirigir só olhando para a frente e só olha para o lado para ver mulher na beira de estrada […]”, é o que cita o instrutor virtual em um dos trechos da video-aula veiculada aos trabalhadores.
Para uma petroleira associada ao Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), a atitude não é novidade na companhia. “Durante toda a minha carreira passei por desconfortos por ser mulher dentro de uma empresa majoritariamente masculina, é humilhação atrás de humilhação”, relata a trabalhadora que preferiu não se identificar.
O atual quadro de funcionários, com menos de 20% ocupado pelo gênero feminino, reflete políticas históricas da empresa – as mulheres, por exemplo, só puderam ocupar cargos de operação após os anos 2000.
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Mesmo assim, o preconceito continua. Segundo outra operadora da estatal, todas as mulheres, ao adentrarem a operação da empresa, precisaram carregar sacos de 20 kg para demonstrarem que eram capazes de exercer o trabalho. “Quando passamos por situações como essa do treinamento, lembramos de todas essas outras feridas que não são poucas”, lamenta a trabalhadora que preferiu não se identificar.
Reflexos da atual conjuntura
Diretor do Sindipetro-SP e petroleiro na Refinaria de Capuava (Recap), Juliano Deptula repudia o machismo institucionalizado da empresa e relaciona a atitude, também, ao atual momento político brasileiro. “Diante desse governo machista, infelizmente, a ação da Petrobrás não é uma novidade”, completa.
De acordo com a primeira trabalhadora citada na reportagem, por mais que nos últimos anos as falas machistas tenham ocorrido com menor frequência, por conta da maior discussão e inclusão das mulheres nos debates, a empresa ainda peca ao afirmar que está preocupada com a igualdade de gênero. “Não existe igualdade de gênero dentro da Petrobrás, é represália atrás de represália”, finaliza a petroleira.