SindiPapo: Sexo, sexualidade e exploração do trabalho

Na sequência do ciclo de lives do Sindipetro-SP, o tema da vez foi o atual cenário político para a população LGBTQIA+

Por Andreza Oliveira

Na última sexta-feira (22), foi ao ar a oitava live produzida pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP) desde o início da pandemia de covid-19. Agora com nome definido, o SindiPapo abordou como temática a vivência LGBTQIA+ e o mercado de trabalho.

Mediada pelo jornalista Luiz Carvalho, participaram da conversa Tiago Franco, dirigente do Sindipetro Unificado-SP e integrante da Frente Petroleira LGBT; Filipa Brunelli, Assessora de Políticas LGBTQIA+ de Araraquara (SP); e Samara Sosthenes, coordenadora de um núcleo da Uneafro Brasil (União Popular de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora) e militante do movimento negro, de mulheres e de moradia.

Na classe petroleira, a discussão é recente mas já começa a engatinhar. “Temos tudo para avançar bastante. É preciso cavar espaço dentro do sindicato para conseguir debater, chamar a categoria para trabalhar isso coletivamente e, assim, conseguir uma absorção maior da pauta LGBT dentro da pauta sindical”, afirma o dirigente Tiago Franco, que reforça a importância da direção saber a melhor forma de dialogar com a sua base.

Durante o debate, houve um consenso sobre a gravidade dos desafios que se colocam para a população LGBTQIA+ neste atual cenário político brasileiro. Desde as eleições de 2018, o país lida com um governo de extrema direita, propagador de discursos conservadores contra minorias sociais, que acabam sendo ainda mais marginalizadas. O próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um disseminador de ataques por meio de termos pejorativos e homofóbicos. “Com certeza o Bolsonaro só despertou ódio e fascismo”, afirma a assessora de políticas públicas, Filipa Brunelli, sobre as dificuldades que surgiram a partir da nova gestão nacional.

Retrocesso de políticas públicas para a população LGBTQIA+

Praticamente todas as políticas públicas voltadas para minorias políticas estão excluídas ou sofrendo cortes desde o início do governo Bolsonaro. No caso da pauta LGBTQIA+, a situação não é diferente. “Sempre tivemos alta taxa de mortalidade das pessoas LGBTQIA+, mas antes o Estado reconhecia e agia com políticas para combater essa problemática. Hoje, após o golpe de 2016, vemos o oposto”, reiterou Filipa ao explicar como o Brasil e atual presidente da República vêm legitimando as agressões e mortes contra essa comunidade.

Para Samara, a falta de políticas públicas específicas para a população LGBT junto à pandemia do novo coronavírus agravam ainda mais a situação dessa parcela da população. “Em âmbito nacional, o único programa de amparo que temos é o auxílio emergencial, que deixou de beneficiar muitos que precisam. Poucos estados tiveram um olhar específico para essa parcela da população, enquanto o governo federal só vê a questão da economia e esquece que as pessoas que estão morrendo não são apenas números”, opina

Mercado de trabalho

As dificuldades da classe LGBTQIA+ estão presentes em todos os campos da sociedade, inclusive na inserção no mercado formal de trabalho. Filipa sentiu na pele como era ser discriminada por não se enquadrar ao padrão normativo. “Os confrontos eram enormes, já fui impedida de usar o banheiro masculino e feminino por não me enquadrar em nenhum dos dois gêneros quando trabalhava como vendedora em uma loja”, lembra. Ela afirma também que, apesar de ser uma pessoa trans, tinha de se vestir como homem gay para não perder o emprego. “Foi muito doloroso ter minhas necessidades fisiológicas sob domínio de um terceiro”, comentou.

Para Samara, os desafios não foram diferentes. A militante conta que durante muito tempo da sua vida teve medo de se assumir como transsexual, por temer pela própria vida, e também tentava se adequar como um homem gay para conseguir se inserir no mercado de trabalho. “Muitas vezes as pessoas acham que nos prostituimos porque queremos, o que é um equívoco. Diversas vezes já me pararam na rua, enquanto saía para trabalhar ou estudar, e me perguntaram quanto era o programa”, recorda, quando questionada sobre as dificuldades que a sexualização do corpo trans traz para essa parcela da população LGBT.

O petroleiro Tiago Franco faz um outro apontamento sobre as dificuldades encontradas para a inserção da população LGBT no mercado formal de trabalho: o sucateamento dos concursos públicos. “Os concursos costumavam ser uma garantia para essa minoria da sociedade, mas existem cada vez menos por conta do desmonte do estado”, aponta.

Confira abaixo a conversa na íntegra:

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