Desde terça-feira (19), a Refinaria de Paulínia (Replan) está produzindo menos 9 milhões de litros de combustíveis por dia devido à falta de escoamento do GLP
Por Guilherme Weimann
Desde a última terça-feira (19), o Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) recebeu informações exclusivas que apontam para a diminuição da produção na Refinaria de Paulínia (Replan) – a maior do país e do Sistema Petrobrás. A causa, de acordo com as fontes ouvidas, é o alto estoque e a falta de escoamento do gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido popularmente como gás de cozinha.
Segundo mensagens internas enviadas anonimamente para a reportagem, o gerente geral da unidade determinou a redução da carga diária de destilação de 65 milhões de litros para 56 milhões de litros, uma redução de 13,85%. Além disso, houve corte no craqueamento, de 16 milhões de litros para 13 milhões de litros diários.
Na refinaria, a destilação é responsável pelo fracionamento do petróleo. Uma de suas frações pesadas, o gasóleo, serve como matéria-prima no processo de craqueamento. Nesta etapa, por sua vez, o gasóleo é “quebrado” (craqueado) e, desta quebra, o GLP produzido, configurando-se uma mistura de 3 a 4 carbonos.
Os motivos para os estoques de GLP estarem na sua capacidade máxima não tem relação com o consumo. De acordo com o Painel Dinâmico do Mercado Brasileiro de GLP, da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), houve um aumento das vendas do produto no país de 557 mil toneladas em fevereiro para 626 mil toneladas em março.
Um dos motivos, já apontados pela reportagem em situação semelhante ocorrida na refinaria em julho do ano passado, pode estar relacionado com a decisão do governo de zerar o Imposto de Importação sobre a resina de polipropileno em abril, exatamente há um ano.
Elaborada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex), ligado ao Ministério da Economia, a medida estipulou uma cota de importação de 77 mil toneladas do produto, justificada na época pela necessidade de matéria-prima utilizada na produção de máscaras de proteção contra o Sars-Cov-2, vírus causador da covid-19.
Entretanto, a resolução afetou diretamente a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e pela Petrobrás, que produz o polipropileno. Como reação em cadeia, a Petrobrás também foi afetada, por ser a fornecedora do propeno, insumo utilizado na fabricação do polipropileno. Por isso, o propeno foi incorporado ao GLP, fabricado a partir do propeno, que não encontrou logística de escoamento.
As fontes ouvidas pela reportagem apontam para um novo incremento de importação do produto, o que incidiria diretamente sobre a produção do gás de cozinha nas refinarias.
Para a diretora do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), Cibele Vieira, é um contrassenso o fato da maior refinaria do país paralisar parte da sua produção por falta de escoamento do GLP.
“Por que não abaixar o preço? Se abaixar, provavelmente seria possível escoar mais rapidamente e, além disso, contribuiria com milhões de famílias que hoje não tem dinheiro para comprar um botijão”, opina.
De acordo com levantamento da ANP, o preço médio botijão de 13 quilos do gás de cozinha no país em abril é R$ 113,61. Além da Replan, a Refinaria Gabriel Passos (Regap), localizada na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), também diminuiu sua carga diária de craqueamento de 6,6 milhões de litros para 2,7 milhões de litros.