Os mesmos de “papo de homem no Dia da Mulher” trazem: “branca falando de racismo”

Evento da DPI sobre Consciência Negra desaponta com escolhas que reforçam exclusões históricas

Charge: Bira Dantas

A Diretoria de Processos Industriais (DPI) promoveu, na última quinta-feira, dia 28, um evento em comemoração ao mês da Consciência Negra, com a palestrante convidada Lilia Schwarcz, seguido de uma roda de conversa. Diferente de outros setores, que trouxeram grandes nomes como Cida Bento e Carla Akotirene, além de dar voz a lideranças quilombolas, a DPI escolheu uma palestrante branca para seu principal evento. Uma escolha que desaponta, mas não surpreende, visto que, em 2022, no evento transmitido para as quatro refinarias paulistas em celebração ao Dia da Mulher, quem conduziu a programação foi Guilherme Valadares, do canal “Papo de Homem”.

Não se trata aqui de negar o direito ao posicionamento de qualquer pessoa, pois sabemos que o conceito de “lugar de fala” na realidade tem a ver com o entendimento de que cada fala é marcada por uma perspectiva própria. Além disso, também reconhecemos a importância de pessoas que, ao identificarem seus privilégios, se engajam na luta antidiscriminatória. No entanto, é impossível ignorar que, em um evento tão relevante, promovido por um setor tão significativo dentro da Petrobras e transmitido para todas as unidades da DPI, o protagonismo tenha sido dado a uma pessoa branca, cutucando a ferida histórica da crença no supremacismo branco, legado do colonialismo.

Ironicamente, a palestrante discursou sobre as semióticas colonialistas na produção artística. Como a grande acadêmica que é, analisou muito bem as diversas obras que apresentou e conseguiu demonstrar conceitos racistas implícitos, no entanto, sua apresentação se resumiu a isso, deixando o público esperando algo mais. Ao desenvolver o tema da branquitude, limitou-se a proposições rasas e de cunho individual, contrariando as expectativas de que formularia uma abordagem decolonial sobre as mudanças estruturais necessárias para a efetividade da luta antirracista.

Outro viés desse conceito de hierarquia entre pessoas foi evidente na roda de conversa com funcionários negros que seguiu a palestra. Excluindo-se a mediadora, apenas gerentes foram convidados para a mesa. Embora tenham compartilhado histórias pessoais inspiradoras, não abordaram o que deveria ser o foco principal do debate: a superação do racismo institucional. Como era de se esperar, os convidados não trouxeram mais informações do que aquelas que já podem ser vistas nas propagandas da Companhia. Além disso, a interação com o público foi restrita, impedindo que questões relevantes fossem levantadas, apenas a mediadora teve a oportunidade de fazer alguns questionamentos, que, ao menos, foram assertivos. É preciso pontuar também uma importante questão: qual foi o papel da única mulher presente na mesa e como sua voz foi posicionada dentro de uma dinâmica masculina e hierárquica?

Portanto, embora seja inegável que o evento foi uma oportunidade de reflexão sobre a Consciência Negra, a escolha de uma palestrante branca como protagonista, seguida de um debate limitado a proposições superficiais resultaram em uma iniciativa que, em vez de fomentar um diálogo inclusivo e transformador, infelizmente reforçou as mesmas dinâmicas de poder e exclusão que perpetuam o racismo dentro e fora da Petrobras.

 

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