Volume recorde de dividendos relativos às operações de 2021 é resultado do Preço de Paridade de Importação (PPI) dos combustíveis, da queda dos investimentos e das privatizações; primeira parcela bilionária será deposita no próximo dia 25
Por Guilherme Weimann
Se restava alguma dúvida, desta vez se tornaram mais explícitos os motivos que estão por trás do discurso que há anos tem sido repetido: a necessidade da Petrobrás privatizar ativos para diminuir a sua dívida.
Na última semana, junto ao anúncio do lucro líquido de R$ 42,8 bilhões registrado no segundo trimestre deste ano, a direção da estatal também informou que antecipará R$ 31,6 bilhões (US$ 6 bilhões) aos seus acionistas – valor referente ao exercício deste ano de 2021 –, em duas parcelas, uma no próximo dia 25 de agosto e a outra em dezembro.
Tanto o valor, como a própria antecipação, não encontram precedentes na história da companhia. O valor é quase o triplo do valor pago em 2011 referente a 2010, que foi de R$ 11,7 bilhões – até então o maior volume de dividendos já distribuído na história da Petrobrás.
Desse total, a União ficará com apenas R$ 9 bilhões, por deter 28,67% das ações da Petrobrás – atualmente, acionistas nacionais e estrangeiros já detém a maior parte da cartela de ações da empresa.
Preços dos combustíveis
O elevado valor dos dividendos, impulsionado por um lucro líquido igualmente inflado no segundo trimestre deste ano, é resultado de uma soma de fatores. O primeiro deles é a alta do preço do barril tipo Brent, que custou em média R$ 365, uma alta de 9% em relação ao trimestre anterior. Além disso, o dólar se mantém elevado, custando em média R$ 5,30.
Entretanto, esses não são os únicos elementos que explicam o lucro de R$ 42,8 bilhões registrado no trimestre. Grande parte do resultado operacional positivo é resultado do aumento da receita com as vendas, que aumentou 117,5% em comparação ao mesmo período do ano passado.
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Para o mercado interno, houve aumento de 28,8% nas vendas de diesel; 36,6% de gasolina; 46,4% de gás natural; e 207% de energia elétrica. Além disso, esses derivados de petróleo sofreram reajuste de 102,9% nos preços, devido ao Preço de Paridade de Importação (PPI) – política adotada pela Petrobrás desde 2016, que vincula os preços praticados em suas refinarias às variações do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional e aos custos logísticos de importação.
Atualmente, de acordo com dados fornecidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os consumidores brasileiros têm pagado em média R$ 93,22 pelo botijão de 13 de quilos de GLP; R$ 5,85 pelo litro da gasolina e R$ 4,6 pelo litro do diesel.
Queda nos investimentos
Como noticiado pela reportagem do Sindipetro-SP, o montante destinado aos investimentos na Petrobrás no ano passado, US$ 8,05 bilhões, despencou ao menor patamar desde 2004. Se comparado a 2013, ano no qual a estatal bateu recorde em investimentos, com US$ 48,1 bilhões, a redução é de 83,4%, ou corte de US$ 40 bilhões.
Uma das consequências desse corte de investimento é a diminuição das reservas provadas de petróleo. Segundo dados da ANP, o Brasil repôs apenas 25,6 do que explorou em 2020 e, com isso, as reservas caíram 6,21%, ficando em 11,9 bilhões de barris.
Privatizações
Um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que a Petrobrás já arrecadou, apenas este ano, R$ 14,7 bilhões em privatizações de ativos. Desde total, R$ 11,6 bilhões foram obtidos a partir da venda de 37,5% da participação que ainda detinha da BR Distribuidora.
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Ainda segundo o Dieese, somente no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a gestão da Petrobrás divulgou 60 comunicados de privatização ao mercado, concluindo a venda de mais de 40 ativos, incluindo a TAG e a Liquigás.
Na cartela de privatização, a atual direção da companhia pretende se desfazer de oito refinarias, com a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) já adiantada para um grupo dos Emirados Árabes.