“A magnitude absoluta do tempo de trabalho – o dia de trabalho, a jornada de trabalho – é constituída pela soma do trabalho necessário e do trabalho excedente, ou seja, do tempo em que o trabalhador reproduz o valor de sua força de trabalho e do tempo em que produz a mais-valia”, MARX, O Capital, livro I, página 266
Pedro Carrano*
Eis que, no meio de uma partida dura para a classe trabalhadora no Brasil, um debate fundamental sobre a jornada de trabalho agita as redes sociais. É uma discussão e uma mobilização pelo fim da escala 6×1. A luta de classes, mesmo em momentos defensivos, não cessa, e sempre há caminhos para a luta dos trabalhadores. Sempre há canais de diálogo e chance de tocar em pontos sensíveis do trabalho e, consequentemente, da vida das pessoas. O que enterra o suposto debate teórico sobre o fim do trabalho, ou a falácia de que seríamos todos empreendedores, entre outras falsas ilusões.
Em pesquisa que fiz ainda em 2014, com os trabalhadores da Volvo, em Curitiba, que, em 1995, conquistaram a jornada de 40 horas semanais, eu apontava no estudo que, apesar disso, na prática havia uma série de mecanismos que elevavam semanalmente a jornada de trabalho: a recorrência de horas-extras, o Banco de Horas, intensificando a produção nos períodos de demanda da empresa, resultando, na prática, numa jornada de até 52 horas, superior às 44 horas constitucionais.
Recentemente, com o golpe de 2016 e reformas conservadoras como terceirizações, reforma trabalhista e previdenciária; a juventude enfrenta situações adoecedoras, e a jornada 6×1 resume isso: apenas, quando muito, 6 dias de descanso no mês, sem o controle de qual será o dia semanal para descanso, entre outras consequências.
A jornada de trabalho no Brasil já é extensa e intensa. É, em termos absolutos, maior do que em vários países, como Chile e Espanha. No que se refere à produtividade, o país enfrenta o aumento exponencial de doenças relacionadas ao trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) classifica como insalubre as jornadas que excedam as 48 horas semanais. O Brasil, também de acordo com o que avaliei, com a reestruturação produtiva e indústria dependente, combina as formas de exploração de jornada extensa (mais-valia absoluta) com a relativa (intensificação da jornada num mesmo período temporal).
Por isso, a luta pela redução da jornada sem redução dos salários e pela redução na escala sem o aumento da jornada absoluta são desafios também para esta pauta, uma vez que a patronal sempre vai tentar adaptar a jornada de trabalho de acordo com os seus interesses.
Retomar essa luta é essencial! Todo o campo de organizações da esquerda deve se somar. É um tema de unidade da esquerda, e uma pauta fundamental de avanço da classe trabalhadora em suas condições de vida. A luta de classes no seu sentido mais vivo e imprescindível. A luta que precisamos continuar dando sempre.
*Jornalista, escritor e militante da Consulta Popular