Os cilindros de oxigênio compõem os conjuntos autônomos, utilizados por brigadistas em casos de vazamentos de gases, incêndios ou acidentes similares
Por Guilherme Weimann
Nesta semana, a reportagem do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) recebeu um levantamento, realizado por trabalhadores do setor de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) que preferiram não ser identificados, que aponta que cerca de 20% dos cilindros de oxigênio da Refinaria de Paulínia (Replan) – a maior do país e da Petrobrás – estão vencidos.
Esses cilindros de oxigênio compõem os conjuntos autônomos, que são equipamentos utilizados por brigadistas em casos de vazamentos de gases, incêndios ou acidentes similares dentro das unidades operacionais. “Os conjuntos autônomos podem salvar vidas, não apenas do brigadista, mas de todos os trabalhadores”, afirma um dos técnicos de segurança.
Diante disso, as empresas terceirizadas responsáveis pela recarga dos cilindros estão se negando a fazer o serviço. “Quando as empresas verificam que os cilindros estão com a vida útil ou com os testes hidrostáticos vencidos, elas se negam a fazer a compressão de oxigênio. E elas estão corretas, já que um cilindro vencido pode explodir quando você tentar comprimir ar novamente. O problema é que os gerentes do setor estão obrigando os trabalhadores próprios da Petrobrás a fazer esse serviço”, explica outro trabalhador.
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Além da coação aos trabalhadores, os responsáveis pela área tiraram os cerca de 200 cilindros autônomos da unidade do SMS Control, que é um sistema interno de controle dos equipamentos de segurança. “Eles estão cometendo um ato deliberado de omissão que pode custar a vida de dezenas ou até centenas de funcionários da empresa”, aponta.
Desmonte do SMS
A questão dos cilindros de oxigênio é a ponta do iceberg de um processo de desmonte do setor de SMS da Replan, de acordo com o técnico de segurança. “Antigamente, dizíamos que a Replan era a maior e melhor refinaria do país. Hoje, não podemos dizer que é a melhor. Em busca de diminuir custos e ganhar mais no PPP [Programa de Prêmio por Performance], hoje a Replan é um local perigoso”, opina um petroleiro que trabalha na área.
Há poucos meses, em um treinamento interno para conter possíveis vazamentos de derivados de petróleo, um carro caiu dentro de um lago, que fica na área interna da refinaria, ao tentar engatar um bote. “O trabalhador tentou frear, mas o freio falhou. O carro caiu dentro do lago, com o trabalhador junto. Ele poderia ter se machucado”, relembra.
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O carro era uma caminhonete Ranger, de 2010, que estava sem manutenção há vários meses e era responsável pelos resgates na refinaria. De acordo com o petroleiro, o acidente não foi notificado oficialmente.
No ano passado, houve outro acidente com um veículo da Replan. Em abril, o caminhão da brigada de incêndio da unidade bateu em dois carros e depois despencou em um barranco na Avenida Lix da Cunha, em Campinas (SP). Ele estava em uma oficina para fazer manutenção e, por estar sem freio, acabou capotando até ficar parado com as rodas pra cima na via expressa, uma das principais da cidade.
O contrato com a oficina, entretanto, não previa a manutenção no freio. Por isso, esse acidente poderia ter ocorrido dentro da refinaria.