Em 2002, o escritor francês Jean Pierre Faye usou o termo “teoria da ferradura”, em seu livro Le Siècle des idéologies.
Por Evandro Botteon, petroleiro e diretor do Sindipetro-SP
Eu apenas me deparei com essa expressão recentemente na internet. Fui ver o que significava, de curioso. O verbete da Wikipédia diz: “que a extrema-esquerda e a extrema-direita, ao contrário de serem extremos opostos de um espectro político linear e contínuo, de fato acabam se aproximando, da mesma forma que o fim de uma ferradura”. Didático, não?
Para esse texto de opinião de um operador abelhudo, vou chamar a teoria de teorema, pois acho que vai “orná” melhor. Beleza? Seguimos então.
Aparentemente, alguns atores políticos se esquecem de velhas táticas usadas na política, como a lógica manjadíssima do agente infiltrado – que incita a violência pois, ao fazê-lo, dá o pretexto para que mecanismos institucionais violentos, como os contidos nos fetiches mais pervertidos do bolsonarismo, sejam acionados.
Quem acompanha, certamente está ciente de que há fortes indícios de que essa prática tenha sido utilizada em algumas manifestações do “Fora Bolsonaro”. Contudo, sabemos que existem alguns atores, que realmente são a favor do caminho da violência (e também apostaria, que são os mesmos “esquecidos”).
Nos protestos do dia 03 de julho, um dirigente nacional do PCO, que também é professor de matemática, disse: “A soma de um número positivo com um número negativo dá menos que o número positivo original”. À época, o partido se posicionou contrário à adesão do PSDB aos atos.
Bora montar uma equação então, vai adicionando aí…
No dia 02 de outubro, ocorreu um novo episódio de violência com, supostamente, envolvidos do PCO e da CUT, que tentaram agredir fisicamente Ciro Gomes. Rapidamente, o PT, o Ciro, e outros atores políticos se posicionaram repudiando o ocorrido.
Vale lembrar que nessa mesma manifestação, em declaração ao UOL, o vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT-SP) comparou a união de políticos de espectros divergentes ao movimento das Diretas Já. “Eu participei da campanha das Diretas Já com a união das forças progressistas […] Não vamos permitir qualquer golpe de estado que impeça a escolha do povo brasileiro daquele escolhido em outubro de 2022. Estou aqui unido a todas as forças que querem a força da democracia”, afirmou.
O PCO, que no carro de som criticou a presença de Ciro no ato, ainda não se manifestou contra o episódio de violência. Assim juntamos os elementos para melhor esquematizar. Mas antes, uma pausa.
Para ilustrar um pouco dessa equação, abaixo temos uma peça de propaganda do PCO que prega democracia, revolução e socialismo com as cores da bandeira da França.
Bom, tudo isso me levou a fazer algumas constatações – considerando que o PCO, que apesar de ser da causa operária, não é tão conhecido assim pelos operários, nunca elegeu 01 vereador e o só existe por causa do fundo partidário – de que a conclusão dessa equação é imprecisa.
Imagino que, por exemplo, se o partido abrisse mão do fundo partidário e sobrevivesse só da militância, como prega a revolução e como viviam os revolucionários, sua ideologia faria mais sentido.
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Após essas constatações pessoais, uma dúvida: em que medida a participação de Ciro Gomes no “Fora Bolsonaro” reduz o movimento?
Essa pergunta me traz de volta à figura do professor de matemática do PCO e penso onde será que ele estaria para fazer algumas somas simples, como a de votos, por exemplo, e que preveniria o partido de fazer esse tipo de manifestação, que nada soma além de zero. Esse tipo de postura me parece ser de alguém que só quer aparecer, que pode dar pretexto ao verdadeiro inimigo.
Alguém duvida que tenha gente sonhando com algum evento violento para que as próximas eleições também não se realizem com calma e tranquilidade? Porque caso o PCO não tenha percebido, só estamos vivendo isso pois a eleição de 2018 foi alvo de vários elementos externos que ainda não foram devidamente absorvidos pela população.
Primeiramente houve um fator judicial, o candidato que liderava com larga vantagem foi condenado por um juiz comprovadamente suspeito e legalmente incompetente, em condenação referendada depois de 2ª instância e, portanto, não pôde enfrentar aquele que hoje ocupa a cadeira presidencial.
Pouco tempo depois houve a facada que, segundo o teorema da ferradura, seria “fake” – gosto muito do joguete raso “fakeada” – para aqueles que seriam negacionistas de polaridade invertida.
Hoje é sabido que elementos exógenos e exóticos culminaram nos resultados de 2018 e nos trouxeram até essa tragédia humanitária, econômica e ambiental que vivemos. Na medida em que esses pequenos grupos fizeram esse tipo de agitação, abriram o flanco para as críticas ao movimento, necessário e urgente que é o Fora Bolsonaro, à violência, mesmo com a maior parte dos participantes promovendo ações pacíficas.
Para fechar a equação, adicione o fato do PCO ser armamentista. Pelos cálculos de papel toalha de copa de CCL, feitos aqui com os companheiros, num turno do zero hora, nóis, operários abelhudos, chegamos a conclusão que esse tipo de entidade se parece, e muito, com o bolsonarismo, segundo o teorema da ferradura, e prejudica todos nós.
No delírio do lado de cá, a população se armará e fará revolução, tal qual em 1917. Só que dessa vez, guiados pelos ensinamentos de Trotsky – aquele que foi interrompido ou abreviado, se preferir. Não temam, dará certo! (A crença vem com uma fé quase que religiosa).
Penso que esse tipo de evento lamentável só mostra que alguns atores políticos estão apenas interessados em ‘dar pitaco’ sobre qual partido pode e qual não pode participar de uma manifestação como a do 2 de outubro, e isso me lembra uma época nefasta e não tão distante – nasci quando ela estava no fim, 1985, onde militantes de verdade, como Marighella, se levantaram e combateram-na com suas vidas. Como resultado, hoje temos a democracia, que está em ameaça.
O ‘Fora Bolsonaro’ é pela democracia, alguém ainda não entendeu isso? Caso mudem de polaridade, arquem com as consequências.
Ao menos fiquei bem aliviado ao ver que inúmeras centrais sindicais assinaram um documento criticando as hostilidades sofridas pelo PDT e Ciro, apesar de ter ficado perplexo com a CUT, que ainda não o fez.
Contudo, tenho plena certeza de que a CUT não se enquadra ao teorema da ferradura, citado previamente aqui nesse texto. A entidade certamente é a favor da democracia, e eu, como operário abelhudo, não endosso a declaração falsa feita por Ciro sobre Lula e a Prevent Sênior, uma vez que só nos resta, a coerência.
*A opinião do autor não reflete, necessariamente, a opinião da direção do sindicato e da categoria