Abrasileirar o preço dos combustíveis ainda é possível. Temos o instrumento, que é a Petrobrás.
Por Carlos Salazar, para Portal Porque
A política de preços dos combustíveis do governo Bolsonaro cria inflação na nossa economia. O descontrole do preço dos combustíveis e do consequente aumento do custo dos fretes cria uma pressão inflacionária real em todos os produtos da economia interna do Brasil. Ao tratar os preços dos combustíveis com a ideologia moderna, chamada ultraliberal, no desespero de servir apenas a quem ganha dinheiro na finança, foi resultando nessa disparada inflacionária em todas as mercadorias que consumimos.
A Petrobrás que herdamos do século XX tinha condições de procurar, perfurar poços, extrair petróleo (nas plataformas), transportar (por navios e oleodutos), refinar e distribuir os combustíveis por todo o território nacional. Tanto que, nas primeiras décadas do século XXI, foi ela quem promoveu as maiores descobertas de jazidas de petróleo no mundo, no pré-sal.
A Petrobrás mesmo parcelada no mercado de ações, segue sob o controle decisório do governo. O petróleo é por lei da União, é nacional, é nosso. Portanto o essencial de nossa cadeia de custos referente aos combustíveis é nacional. Não há razão técnica para que nosso frete (e de todos os combustíveis) esteja vulnerável às variações do preço do dólar e do preço do barril internacional do petróleo.
Cada vez que ao encher um tanque deixamos mais de 200 reais no posto, a cada troca de botijão que deixamos R$ 120,00 na distribuidora, no aumento do custo do restaurante da esquina, no preço do pãozinho que segue escalando, cada vez que escutamos que há filas de trabalhadores para comprar osso, pele e pé de frango, nos lembremos dos farialimers, dos homebrokers, dos financistas, dos sócios dos grandes bancos desfrutando de suas viagens, de seus paraísos particulares, de seus carros, roupas, bolsas e joias exclusivas.
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Para massagear o bolso dos farialimers e de todos aqueles que vivem das finanças e que enriquecem passando a vida sem produzir um parafuso ou mesmo sem fazer sua cama ou passar seu próprio café, o governo Bolsonaro vai destruindo nossa economia real. O aumento dos custos vai impossibilitando que os mais pobres consumam, que circulemos pelo território, que criemos produção e consumo, enquanto nos gritam que temos que empreender, sem peixe, sem vara, sem crédito e sem combustível.
O mundo está em guerra e a energia está no centro da questão. A resposta aqui é a redução da alíquota do ICMS, que derruba a arrecadação dos Estados e não resolve a nossa vulnerabilidade às variações internacionais do câmbio e do barril do petróleo. Abrasileirar o preço dos combustíveis ainda é possível. Temos o instrumento, que é a Petrobrás. Retomar uma política de preços vinculada aos custos de produção que ainda são em parte nacionais pode transferir esse poder econômico nacional para os consumidores nacionais, para os cidadãos brasileiros. Resta a nós, cidadãos, fazer valer nosso interesse. Vamos juntos construir um Brasil bom para os brasileiros?
Carlos Salazar, pesquisador e ex-diretor do Sindipetro-SP