Trabalhadores expostos ao risco em rodovias e até a restrição ao uso de banheiros tornaram-se algo comum nas refinarias
Desde a gestão de Aldemir Bendine como presidente da Petrobrás, entre os anos de 2015 e 2016, a companhia tem adotado uma postura cada vez mais truculenta e refratária ao diálogo com os petroleiros.
Política que piorou ainda mais sob a direção de Pedro Parente, Ivan Monteiro e do recentemente demitido Roberto Castello Branco.
A greve deflagrada no dia 4 de março, a partir da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, aumentou a tensão e o temor da empresa diante da organização da categoria e fez com que novas retaliações passassem a acontecer.
Além da paralisação na Bahia, outras bases como as do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Unificado-SP), se mantêm mobilizadas para denunciar os impactos da degradação das condições de trabalho na saúde dos petroleiros e para o futuro do país.
Uma luta que tem gerado como resposta da empresa a tentativa de afastar o sindicato cada vez mais da base, como explica o coordenador da regional Campinas do Unificado, Gustavo Marsaioli.
“Há muitos anos a direção do sindicato vem mudando o jeito de fazer as mobilizações para melhorar a relação com os trabalhadores. Temos adotado a adesão espontânea. Mas, mesmo assim, a empresa busca impedir nossas assembleias e atos. Antes fazíamos na entrada das catracas da Replan (Refinaria Paulínia), depois foi sendo negociado e acontecendo distante das portas, no estacionamento e, recentemente, tentaram nos proibir até de fazer em locais onde houvesse árvores e sombras”, aponta o dirigente.
Vidas em risco
Os argumentos da direção da Replan variam entre a falta de um pedido com antecedência protocolado pelo sindicato até o temor pela contaminação com a Covid, uma preocupação que o Unificado demonstrou manter em maior grau do que a própria empresa, que tem impedido a testagem por dirigentes sindicais.
O problema é que a postura da companhia coloca em risco a vida dos petroleiros. “Na Replan, o acesso à entrada é muito curto e fica próximo à rodovia – Rodovia SP 332. Quando tentarmos parar os ônibus para garantir que todos tenham o direito de decidir se querem ou não participar do ato, forma-se uma fila que causa grande risco de acidente. Além de sempre tentarem usar a força policial para impedir nosso acesso aos veículos”, explica.
Para piorar, a direção proíbe ainda que em dias de ato os trabalhadores que se deslocam com condução própria possam parar no estacionamento mais próximo, como forma de desestimular a participação nas mobilizações. A alternativa para quem deseja integrar as assembleias é deixar o carro no gramado da rodovia e a empresa aciona a polícia rodoviária para multar os motoristas.
Banheiros proibidos
Não bastasse tudo isso, os coordenadores da vigilância alegam ainda que recebem ordem expressa do gerente de recursos humanos, Jonathan Xisto de Oliveira, para proibir o acesso aos banheiros da refinaria a quem participa dos atos.
“As ações são de uma baixeza tão absurda que questionamos se essa orientação é da segurança patrimonial ou se o Xisto sabe o que está acontecendo. Porque, se souber, é conivente e precisa ser responsabilizado por essa atitude ilegal, imoral e que atenta contra o livre direito de manifestação”, afirma Marsaioli.
Após a deflagração da greve, acrescenta o dirigente, os trabalhadores também tiveram problemas com a marcação das férias.
“Cancelaram as férias do pessoal depois da notificação da greve e estão descontando o dinheiro pago, Em parte como forma de gerar descontentamento, em parte, porque estão com medo do movimento. Com a falta de reposição de trabalhadores por parte da empresa, não há efetivo suficiente para tocar hoje a refinaria, se houver alguma mobilização.”
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