Mariana: cinco anos de um crime continuado

Nenhuma casa foi entregue, auxílios emergenciais foram cortados em plena pandemia e problemas de saúde continuam negligenciados; confira reportagem em quadrinhos publicada originalmente no primeiro aniversário do rompimento da barragem de Fundão

Reportagem em quadrinhos: Guilherme Weimann, Rafaella Dotta e Vitor Teixeira

Há exatos cinco anos, no dia 5 de novembro de 2015, por volta das 16 horas, o tempo parou em Bento Rodrigues. Após um estrondo ensurdecedor, aproximadamente 43 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos de minério foram despejados na comunidade rural pertencente ao município de Mariana (MG).

A partir desse momento, as famílias das 19 vítimas fatais e todas as outras milhares de pessoas atingidas, das mais diversas maneiras, pela lama ao longo da bacia do rio Doce passaram a conviver com um crime continuado. Todos os dias que se transcorreram após o rompimento da barragem de Fundão, as mineradoras Samarco, Vale e BHP tem negado o direito à plena reparação.

Até hoje, 342 famílias que foram desalojadas pela lama ainda não receberam suas casas nos três reassentamentos previstos nas comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, e Gesteira, em Barra Longa. O prazo inicial para a entrega das moradias, que era março de 2019, foi estendido para fevereiro de 2021. E tudo indica que ele será novamente adiado.

Além disso, em plena pandemia do novo coronavírus, a Fundação Renova – entidade de reparação criada a partir de um acordo entre as próprias mineradoras e o Estado – cortou 7 mil dos 20 mil auxílios destinados às pessoas que tiveram sua fonte de renda afetada de alguma maneira pelo crime. De acordo com informe da fundação, “as condições da bacia [do Rio Doce] são hoje semelhantes às de antes do rompimento”.

Outro ponto crítico são os problemas de saúde decorrentes dos componentes químicos presentes nos rejeitos, que afetaram a saúde de milhares de pessoas ao longo da bacia do rio Doce. Diversos estudos apresentaram a presença de metais pesados no sangue de atingidos, o que tem causado diversos sintomas, mas as mineradoras se negam a aceitá-los.

Dentro desse modus operandi de negação dos direitos, a Fundação Renova tem barrado as assessorias técnicas, que são equipes compostas por profissionais de diversas áreas escolhidas pelos próprios atingidos para assessorá-los. Atualmente, apenas 3 das 23 assessorias previstas para a bacia do rio Doce estão operando.

Diante da flagrante negligência da Samarco, da Vale e da BHP, o cenário parece ser o mesmo ao longo dos cinco anos que se sucederam a essa tragédia anunciada. Por isso, vale a pena conferir a reportagem em quadrinhos publicada originalmente no Brasil de Fato, no aniversário de um ano do rompimento.

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