Com alta dos combustíveis, preços do transporte e da alimentação disparam

Desde o início do governo Bolsonaro, gás de cozinha teve aumento de 73% nas refinarias da Petrobrás, enquanto o preço do barril de petróleo subiu 31%

Imagem mostra bomba de gasolina de posto de combustível com valor alto
De acordo com índices de inflação divulgados pelo IBGE, disparada dos preços
dos combustíveis impacta diretamente no custo de vida da população (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil).

Por Imprensa da FUP, originalmente publicado na Federação Única dos Petroleiros (FUP)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, subiu 1,14% em setembro, a maior variação desde fevereiro de 2016 (quando atingiu 1,42%), alcançando 7,02%, somente em 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (24). O IPCA-15 deste mês é também o maior já registrado em setembro, desde 1994, e, no acumulado dos últimos 12 meses, registra alta de 10,05%, empurrando o Brasil para a inflação de dois dígitos.

Novamente, o aumento dos combustíveis foi o que mais pressionou a alta da inflação do mês, seguido do preço dos alimentos. Segundo o IBGE, o gasto geral com transportes em setembro aumentou 2,22%, e os custos com alimentação, 1,27%, ambos influenciados pela alta dos combustíveis.

A gasolina foi o combustível que mais subiu entre agosto e setembro (2,85%) e acumula alta de 33,37% no ano e de 39,05% nos últimos 12 meses. Levantamento feito pela subseção FUP do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/FUP) mostra que o gás de cozinha, item essencial da cesta básica das famílias brasileiras, subiu 2,32% em setembro, acumulando em 2021 alta de 26,83% e um aumento de 32,93% nos últimos 12 meses. Já o óleo diesel subiu 30,03% desde janeiro, o que equivale a uma alta de 34,55% desde setembro de 2020.

Tabela 1 - o preço dos combustíveis e os efeitos na inflação para o trabalhador - IPCA/IBGE, setembro de 2021

A disparada dos preços dos combustíveis impacta diretamente no custo de vida da população, fazendo aumentar, em efeito cascata, o preço dos alimentos e dos transportes, como vem apontando o IBGE, ao divulgar os índices de inflação.

“A inflação voltou com força total no país, atingindo a todos, sobretudo os mais pobres. É mais uma prova do fracasso deste governo e do equívoco da política de preço de paridade de importação, adotada pela gestão da Petrobrás, para reajuste dos combustíveis, Enquanto essa política não mudar, a inflação continuará a disparar, deteriorando ainda mais o poder de compra dos trabalhadores”, alerta o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.

Tá caro? A culpa é de Bolsonaro

Só no governo de Jair Bolsonaro, o gás de cozinha subiu 73% nas refinarias da Petrobrás, a gasolina aumentou 57% e o diesel, 45%. Desde que ele assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2019, a inflação acumula 15% (IPCA) e o preço do barril de petróleo subiu 31%. Ou seja, os combustíveis foram reajustados com valores muito acima da inflação e até mesmo da variação do petróleo no mercado internacional.

Leia também: Com gasolina a R$ 7, trabalhadores da maior refinaria do país não recebem há 60 dias

Esse disparate, que impacta diretamente no custo de vida das famílias brasileiras, é resultado do Preço de Paridade de Importação (PPI) que foi implementado pela direção da Petrobrás, em outubro de 2016, logo após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Desde então, os derivados produzidos nas refinarias brasileiras, com petróleo nacional, aumentam toda vez que o preço do barril sobe no exterior e também sofrem a influência da cotação do dólar e dos custos de importação, mesmo o Brasil sendo autossuficiente na produção de petróleo.

No dia 17 de abril de 2016, quando os deputados federais aprovaram o pedido de impeachment, o preço médio da gasolina nos postos de combustíveis era de R$ 3,716, o litro. O diesel custava R$ 3,023 e o preço médio do botijão de gás de 13 kg era de R$ 53,637, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Se esses valores forem corrigidos pela inflação acumulada ao longo destes cinco anos e cinco meses (27,44% até setembro de 2021, segundo o IPCA), os preços hoje deveriam ser: R$ 4,73, litro da gasolina; R$3,85, o litro do óleo diesel e R$ 68,35, o gás de cozinha.

Produção nacional de petróleo aumentou e custos de extração e refino, caíram

Segundo o Dieese/FUP, entre abril de 2016 e setembro de 2021, a produção nacional de petróleo cresceu 33% e o custo de extração pela Petrobrás caiu 39,3%, devido, principalmente, às tecnologias desenvolvidas pela empresa e à produtividade do pré-sal. Também neste período, houve queda de 28,2% dos custos de refino. A gestão da Petrobrás, no entanto, reduziu, deliberadamente, a utilização das refinarias, que hoje operam com uma capacidade de produção abaixo de 75%, aumentou as exportações de petróleo bruto e colocou à venda metade do parque de refino da estatal, privatizando também a BR Distribuidora, a Liquigás e praticamente todo o setor de logística, responsável pelo escoamento e distribuição de petróleo, gás e derivados.

“Tínhamos e ainda temos, todas as condições de garantir o abastecimento nacional, com preços de combustíveis justos para a população, que levem em conta os custos nacionais de produção e de refino. Temer e Bolsonaro, no entanto, dilapidaram a maior empresa nacional e impuseram uma política de reajustes dos combustíveis que beneficia única e exclusivamente os acionistas privados, que detêm 63,25% do capital total da empresa, dos quais 42,18% são estrangeiros. O lucro recorde de R$ 42,8 bilhões no segundo trimestre de 2021 foi essencialmente construído às custas das privatizações e dos preços abusivos dos combustíveis”, explica o coordenador da FUP, ressaltando que R$ 31,6 bilhões de dividendos pagos aos acionistas, somente R$ 11,6 bilhões (36,8%) ficarão com o Estado brasileiro. Os acionistas privados embolsaram mais de R$ 20 bilhões do lucro da Petrobrás, sendo que cerca de R$ 13 bilhões foram enviados para fora do país, aos investidores estrangeiros.

Ele lembra que nos dois governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o preço do barril do petróleo sofreu uma variação de 223%, mas a gasolina aumentou apenas 18%, o diesel, 30% e o gás de cozinha teve o preço congelado entre 2003 e 2014, através de uma política de subsídio. “É preciso que a Petrobrás volte a ser gerida como uma empresa estatal, a serviço do povo brasileiro, cumprindo o seu papel de abastecer o país, garantir a soberania e o desenvolvimento nacional, como aconteceu entre 2003 e 2014. Mudar os rumos da Petrobrás é uma decisão de Estado, que compete ao governo federal”, afirma Deyvid, lembrando que o poder de decisão é do governo federal, pois o Estado brasileiro ainda é o acionista majoritário da Petrobrás, com 50,5% das ações com direito a voto no Conselho de Administração da empresa.

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