O que conscientiza as pessoas é a educação

Nasi, do IRA!, falou sobre música, política e o papel das religiões de matriz africana

Foto: Reprodução Facebook

No dia 21 de agosto de 2020, foi ao ar a 20ª edição do SindiPapo, série de lives produzidas pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo. Com mediação do jornalista Luiz Carvalho, o programa recebeu como convidado um dos maiores nomes do rock nacional, Nasi, vocalista do IRA!.

Na estrada desde 1985, Marcos Valadão (artisticamente conhecido como Nasi) ex-estudante de História da Universidade de São Paulo (USP), conversou com a categoria petroleira sobre política, perspectivas para o futuro, religião, carreira solo, dentre outros assuntos. 

Em um cenário de golpe militar no Brasil e sem a opção de escolha de representantes para o país, o IRA! lançou seu primeiro álbum junto a uma geração de artistas e bandas dos anos 1980 que buscavam retratar em suas composições um novo amanhecer depois de anos de tortura e censura promovidos pelo governo brasileiro. “Hoje, vemos que o país dá um passo para a frente dois para trás, nunca pensei que viveria um momento como esse”, afirmou o compositor ao relacionar as primeiras produções do grupo com os tempos atuais. 

Política brasileira e perspectivas pós-pandemia

Para ele, que se considera de esquerda, o atual cenário político brasileiro, que foi moldado por fake news e robôs em redes sociais, é entristecedor. “Era para o Brasil ter outras discussões, pensei que caminharíamos para que o país chegasse a evoluções sociopolíticas”, lamentou Nasi ao indagar sobre qual será o amanhã a ser enfrentado por seus filhos e netos.

Nasi explica também que a educação é um fator fundamental para o desenvolvimento político de um povo. “O que conscientiza as pessoas e a realidade em que elas vivem é a educação”, declarou o cantor que acredita que, cada vez mais, as músicas que tocam nas rádios são aquelas que dizem somente o que o establishment quer ouvir. 

Por isso ouvimos essa música pobre e com mensagens sexistas, machistas e com um português horrível.

Nasi, vocalista do IRA!

Ao ser questionado sobre quais são suas visões e perspectivas relacionadas ao futuro, o cantor disse não ser pessimista, nem otimista, mas acredita que a humanidade não deu certo e apontou que não acredita em qualquer mudança de consciência relacionada apenas à crise sanitária e política que o mundo atravessa.. “As pessoas voltarão [da pandemia] do jeito que são. Quem estiver pronto para rever seus conceitos assim fará”, explicou. 

Sobre as próxima eleições municipais que devem ocorrer ao final deste ano, Nasi defendeu a importância de empoderar as religiões de matriz africana, das quais é seguidor, e declarou voto para vereador no advogado Antônio Basílio Filho, que atua junto a instituições que as defendem. “Por conta da má representação da nossa religião [de matriz africana] na bancada, provavelmente, apoiarei a chapa completa para um alinhamento da prefeitura”, informou.

Direitos humanos, ambientalismo, combate à intolerância e luta por um mundo menos desigual são pautas que agradam o cantor quando o assunto é política. “Não me considero comunista, talvez até um social democrata, apesar das dúvidas em alguns paradigmas econômicos”, afirmou Nasi, que em um cenário nacional, acredita que Marcelo Freixo seja a melhor opção para assumir a presidência do país. 

Conciliação entre carreira solo e IRA!

Em 2020, após 13 anos sem lançar músicas inéditas, o IRA! voltou à ativa com um disco de mesmo nome da banda, que foi aplaudido pelas críticas por conta dos videoclipes marcantes. “Para mim, esse ano se encerrará como se não tivesse existido. Apesar do lançamento do álbum ter sido elogiado, praticamente não fizemos shows”, lamentou Nasi que disse sentir falta de estar em cima do palco.

Um dos singles com mais destaque no novo álbum da banda é o “Mulheres à Frente da Tropa”, que teve seu videoclipe filmado nas dependências da Ocupação 09 de Julho e dias antes da implantação das medidas de isolamento. “Essa, que é uma das músicas mais políticas do disco, foi inspirada na história de Marielle Franco, que resume de maneira tão terrível a violência dos nossos tempos”, relatou.

Com perspectivas para um futuro de sua carreira solo, Nasi afirma que as músicas que serão produzidas por ele terão uma abordagem diferente das canções do Ira!. “Muita gente me cobra por produções mais voltadas para a cultura dos orixás, que já entram nos meus trabalhos, ora na letra, ora no arranjo, mas quem sabe um dia não produzo um disco [totalmente] voltado aos cânticos tradicionais dos orixás adaptados a um pop ocidental”, afirmou o cantor. 

Religiosidade e produção de documentário

Como praticante das religiões de matriz africana, Nasi também busca trazer essa cultura como tema central de um documentário que está produzindo. Viajando desde 2013 para a Nigéria, o cantor e compositor decidiu tratar sobre o orixá Exu, habitualmente retratado pelas religiões cristãs como o diabo.

Com filmagens que começaram em 2015, a direção do documentário está nas mãos de Thiago Zanato. “Racismo é um dragão de várias cabeças e tudo o que tem de bom na música americana é de origem africana misturada com um pouco de cultura europeia”, explicou. 

“Infelizmente nasci branco, e por mais que eu lute e fique indignado contra o racismo [das diversas formas], nunca vou saber o que é passar por isso”, acrescentou, ao argumentar sobre a importância em saber classificar o lugar de fala. 

Dica cultural

Como dica para aprofundamento cultural e histórico, Nasi sugeriu a leitura do livro “Operação Araguaia – os arquivos secretos da guerrilha”, escrito por Eumano Silva e Taís Moraes e que conta com produções fotográficas realizadas por seu tio avô. 

Ainda sob mesma temática, outra indicação do cantor é o documentário Soldados do Araguaia, que foi lançado em 2018 e dirigido por Belisário Franca. 

Acompanhe o bate-papo completo: 

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