Empresa fracassa ao entrar em mercados sem as competências necessárias e tenta encontrar culpados ao invés de reconhecer erros
*Por Albérico Santos de Queiroz Filho
Em matéria publicada pela EPBR em 13 de janeiro de 2023, a Unigel exaltou, através do gestor de sua cadeia de suprimentos (“supply chain“), as vantagens de ter ingressado no mercado livre de gás natural. Anunciou, orgulhosa, que já possui contratos com cinco fornecedores diferentes: Petrobras, Shell, Galp, PetroReconcavo e Bahiagás.
No entanto, ficou evidente que a estratégia de abrir o mercado de gás foi um equívoco, pois a decisão de submeter uma matriz energética aos interesses do mercado é e sempre será uma péssima escolha.
O que impressiona nesse momento é que, apesar de ter vários fornecedores, a Unigel responsabiliza a Petrobrás, como se fosse a única participante (“player”) no mercado livre que tanto aplaudiram. Não adianta reclamar nos braços da estatal; assumam que entraram em um mercado sem competência suficiente para operar nele. O risco do negócio é do investidor, e não aceitaremos a terceirização da culpa, nem para os trabalhadores, nem para a Petrobrás. Se não aguenta, pede para sair.
Já em janeiro, quando comentou sobre as dificuldades do livre mercado, eles disseram: “(O fornecedor) sabe que minha alternativa é o gás importado e precifica com base no gás importado. Infelizmente, a abertura do mercado foi feita sem a infraestrutura necessária para tornar o país autossuficiente”, comenta o diretor de supply chain da Unigel, Luiz Nitschke. Silêncio! Gente, ele está descobrindo que o livre mercado não é como o Estado, que tem o dever de atuar em prol dos interesses nacionais.
Ainda no mesmo artigo, eles alegam que: “Como consumidores, fomos lançados aos leões num momento em que os leões estavam numa posição favorável”. E, sem surpreender ninguém, pedem que o governo (sim, mesmo no livre mercado, a solicitação é para o governo) “olhe com mais atenção para questões como o aumento da oferta nacional”. Eu sugiro que negociem com seus cinco fornecedores gloriosos e reconheçam que o mercado livre de gás foi uma falácia que, quando colocada em prática, não beneficiou o consumidor final.
Por fim, os proprietários da Unigel, representada no exterior pela CIGEL, deveriam estar mais atentos aos negócios e reconhecer que sua incursão no setor de fertilizantes foi um fracasso imaturo, e que sua incursão no mercado livre de gás natural foi uma aventura que os colocou na situação em que se encontram hoje, olhando para a Petrobras como uma tábua de salvação.