Unificado inicia Seminário de Planejamento com análise de conjuntura

 “Nós nos fazemos ao fazermos as coisas”, disse Gilmar Mauro, do MST, ao abrir o Seminário de Planejamento do Sindipetro Unificado, que reúne lideranças sindicais e dirigentes no Instituto Cajamar

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O dirigente do MST, Gilmar Mauro, reflete sobre a crise climática e o papel das organizações populares

O Sindipetro Unificado deu início nesta terça-feira (7) ao seu Seminário de Planejamento, realizado no histórico Instituto Cajamar, em São Paulo. O evento reúne, até o dia 8,  dirigentes sindicais, representantes de base e convidados para debater os rumos da categoria petroleira e os desafios políticos, sociais e ambientais do país.

A abertura do seminário foi conduzida por Steve Austin, diretor do Sindipetro Unificado, que apresentou o cronograma das atividades e reforçou o simbolismo do local.

O Instituto Cajamar, fundado em 1986 como uma escola de formação da classe trabalhadora, estava desativado desde 2021. Em 2023, o próprio Sindipetro Unificado coordenou reformas estruturais que permitiram sua reabertura para atividades de formação sindical e debates estratégicos: 

A abertura também ficou marcada pela análise de conjuntura nacional e internacional conduzida, além de Steve Austin, pela coordenadora-geral do Sindipetro Unificado e diretora da FUP, Cibele Vieira, e também por Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

Em uma fala densa e provocadora, ele destacou a gravidade da crise ambiental e social contemporânea e a necessidade de reconstruir valores coletivos: “Precisamos entender que, embora haja muitas diferenças e divergências, o futuro já chegou. Aquilo que imaginávamos viver em 2070, já vivemos hoje. A massa de gases de efeito estufa na atmosfera é suficiente para derreter as geleiras”, afirmou Mauro.

O dirigente fez críticas à falta de avanços concretos nas conferências climáticas internacionais, incluindo as COPs: “Sou cético em relação a essas conferências, pois as metas estabelecidas lá atrás não foram cumpridas. Além de não reduzir as emissões, o mundo ampliou a liberação de gases de efeito estufa — e a tendência é que as novas metas também não sejam atingidas”, afirmou.

Crise ambiental e social

Durante a exposição, Gilmar Mauro também relacionou a destruição dos biomas brasileiros ao aumento da insegurança alimentar e à expansão da monocultura de soja e milho, voltadas à exportação: “Por que a inflação sobre os alimentos neste século é maior do que sobre outros produtos? É pelo uso do espaço agrícola brasileiro e pela pressão exercida pela lógica de exportação de commodities”, analisou.

Segundo o dirigente, o avanço do agronegócio, aliado ao consumo crescente de alimentos ultraprocessados, agrava a crise de saúde e aprofunda desigualdades. Mesmo assim, ele afirmou manter o otimismo com a capacidade de reconstrução da sociedade: “Apesar do cenário caótico, estou otimista. Precisamos recuperar a participação popular, a rua, o debate. Mais do que nunca, a revolução é a única possibilidade de prolongar a vida humana na Terra. Não há outra.”

Ao encerrar sua fala, Mauro destacou que a ação concreta é a formação política e humana: “Quando decidimos plantar 100 milhões de árvores em 10 anos, tínhamos consciência que isso não resolveria o problema da questão ambiental e a crise climática. Quando nós decidimos fazer marmita e fazer doações solidárias no período da pandemia e outros, sabíamos que não iríamos resolver os problemas da fome no país. Quando mandamos militantes do MST para a Palestina, para o Haiti, para a África, mais do que ajudar eles a resolver os problemas deles, no fundo estamos formando em nós a solidariedade e o internacionalismo. É disso que se trata. É criar essas iniciativas numa perspectiva de formar uma nova geração com outros valores. Nós nos fazemos ao fazermos as coisas”, apontou Gilmar Mauro.

Soberania e organização popular

A mesa de abertura também contou com a participação de Cibele Vieira, coordenadora-geral do Sindipetro Unificado e diretora da FUP, que destacou a importância de compreender a disputa global em torno da economia digital e dos sistemas financeiros: “É natural que os Estados Unidos olhem para o Pix com receio. Por trás desses ataques estão os interesses das empresas de cartão de crédito e das Big Techs, que estão perdendo dinheiro. Eles querem taxar o Pix porque é uma ferramenta pública que os incomoda”, afirmou.

Cibele destacou que o Brasil tem papel importante na quebra dessa hegemonia e na construção de alternativas econômicas. Ao comentar o cenário nacional, reforçou a necessidade de engajamento e consciência coletiva: “Precisamos conquistar corações e mentes. A luta pode ser cansativa, mas jamais deve ser vista como um fardo. Temos que ter prazer em fazer o que fazemos.”

Ela também chamou atenção para os efeitos da fragmentação da cultura organizacional da Petrobrás nas últimas décadas, resultado de políticas internas que incentivaram a competição e o individualismo: “Sempre fomos uma categoria que colocava a coletividade acima da individualidade. Tentaram destruir isso com metas individuais e políticas de disciplinarização. Quebraram a solidariedade para impor o medo. Essa chave ainda é difícil de virar”, disse.

Cibele Vieira retomou a palavra para refletir sobre os objetivos do encontro e o papel do planejamento coletivo como instrumento político: “O aumento da produtividade precisa gerar melhores condições de trabalho, relações mais justas com as comunidades do entorno e uma transição energética justa. Isso está na pauta do nosso ACT e na luta por um Brasil soberano”, afirmou.

Perspectiva teórica e prática

Encerrando o debate, Gilmar Mauro provocou os participantes a pensar sobre o sentido das ações coletivas: “A pergunta fundamental não é ‘por quê?’, mas ‘pra quê?’. Os recursos são finitos, e precisamos usá-los com consciência, substituindo-os por alternativas renováveis. Ninguém está falando em voltar ao passado — é possível alimentar o povo de forma agroecológica.”

Em tom reflexivo, ele concluiu: “Para dialogar com a juventude, não adianta xingar. É uma questão organizativa. As classes trabalhadoras vivem de trabalhar; momentos de luta são sazonais. Não há milagre — é um processo de fazimento e reflexão que vai gerar teoria e caminho.”

Próximas atividades

O Seminário de Planejamento do Sindipetro Unificado segue até quarta-feira (9). Ainda nesta terça, a programação inclui a apresentação de pesquisas realizadas com trabalhadores da Petrobrás e divisão em grupos de trabalho.

Na quarta (8), está prevista a sistematização dos debates, a definição de diretrizes de atuação para o próximo período e reuniões das secretarias do sindicato.

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