Trabalhadores da Replan sofrem com desgaste emocional e dívidas que se acumulam por conta de erros do RH da empresa
A vida não está fácil para a classe trabalhadora diante da pandemia de covid-19. Mas, se já não bastasse a tensão causada pelo coronavírus e pela busca por proteção individual e dos familiares, os petroleiros da Petrobrás ainda têm convivido com falhas contínuas de pagamento cometidas pela Petrobrás.
Erros que trazem frustração, mas também prejuízos financeiros enormes, como é o caso de *Helena, trabalhadora do laboratório da Replan (Refinaria Paulínia), que se vê obrigada a avaliar a venda de um veículo para pagar contas que seriam honradas se os salários fossem depositados corretamente.
Em seu setor, ela narra que ao menos metade dos trabalhadores enfrenta a mesma situação desde que começou um rodízio inserindo o teletrabalho na rotina. A partir disso, todos foram considerados como ligados ao administrativo, porém, nem mesmo o equivalente a 100% dos vencimentos pagos a quem trabalha nessa área tem sido creditado nas contas.
“Receber corretamente só para quem tem sorte. Na minha conta, por exemplo, só caiu 40% do salário. Pior é que tentamos buscar solução com nosso supervisor e disseram que temos de cuidar individualmente dos nossos problemas. O RH não tem dado solução, abrimos chamado, ligamos para o 0800 e dizem que vão resolver, mas não nos dão resposta. Estou negativada desde o dia 15, usando cheque especial e tem colega nosso pedindo empréstimo”, critica ela, casada com um companheiro que não possui trabalho fixo.
Para piorar, também benefícios, como o auxílio alimentação, têm falhado. “Cada hora eles mudam alguma coisa, no mês passado recebi um cartão de tíquete que veio com o saldo zerado. Isso é um absurdo, temos sofrido um grande desgaste emocional”, critica.
Colapso geral
No setor conhecido como de utilidades da Replan, que é responsável pelo suprimento das máquinas, *Osvaldo diz que é vítima de erros no pagamento desde abril. Segundo ele, ao menos outros 30 colegas estão na mesma situação.
A adequação que a Petrobrás praticou ao enviar os petroleiros para casa e que deveria ser paliativa se tornou algo fixo e de moroso acerto.
“O problema é que quando vamos para teletrabalho, ficamos com salário menor, porque saem todos os adicionais como o de turno e de trabalho noturno.”.
Mas, se falta agilidade na solução dos problemas que cria, a direção da companhia parece ser bem rápida quando a questão lhe favorece. “Agora a Petrobrás demora para resolver, mas na época da greve, o valor de quem parou foi descontado no dia seguinte. Precisam ter mais responsabilidade ou será que vão pagar os nossos boletos que estão vencendo?”, questiona.
Homologação atrasada
A competência para ser incompetente parece ter sido absorvida do governo Jair Bolsonaro e se tornado uma máxima do setor de RH da Petrobras, que não restringe suas falhas aos salários e benefícios.
Até mesmo a quitação de homologações tem falhado, como explica Márcio Cardoso, operador de petróleo que atuava no Sedil (Setor de Destilação Atmosférica) da Replan e dedicou 37 anos à empresa.
No final do ano passado ele se aposentou e a homologação foi realizada em 7 de janeiro, quando o jurídico do sindicato identificou ressalvas e descontos com os quais Márcio não concordou. Por lei, a companhia deveria marcar uma nova homologação em 10 dias, mas até agora não houve o encontro.
“Já falei com a empresa, mas problema é que o RH e não responde em tempo, o diálogo está muito difícil. Sei que outros que se aposentaram junto comigo tiveram o mesmo problema, de desconto de ausência que não são justificadas”, lamentou.
E o sindicato?
Para o coordenado da regional de Campinas do Unificado, Gustavo Marsaioli, as falhas passam pela rotatividade de quem faz a organização e as folhas de pagamento, além da terceirização do próprio setor de recursos humanos. Ela garante que a pressão vai continuar até que o problema seja resolvido.
“Temos apresentado e cobrado da empresa sistematicamente todos os casos que chegam até nós. Alguns, a Replan tem maior celeridade na resolução, outros ainda têm virado de um mês para outro. Também temos cobrado que a empresa antecipe os contracheques de ajuste. Não descartamos a judicialização a partir dos prejuízos que os petroleiros têm enfrentado, mas ainda estamos apostando diálogo para tentar resolver”, afirma.
*O nome foi trocado para preservar a identidade dos trabalhadores