Recap coloca nos operadores a responsabilidade pela falta de efetivo

Na Refinaria de Capuava (Recap), a gestão inova ao transferir o ônus da falta de efetivo para os trabalhadores

A gestão tem feito a operação assumir funções administrativas (Foto: Petrobrás)

Bronca do Peão*

A empresa, ao invés de assumir suas falhas na gestão de efetivo, decide transferir a responsabilidade para os trabalhadores, como se eles fossem os únicos capazes de “salvar o dia”. E como isso é feito? De maneira simples: exigindo que os funcionários peguem as dobras de turno e cubram os buracos do horário administrativo, com a promessa de que isso será considerado nas avaliações de desempenho e no avanço de nível.

Na Refinaria de Capuava (Recap), no setor de Hidrorrefino, essa prática foi explicitada de forma ainda mais absurda e inadmissível. Os operadores do setor foram surpreendidos ao receberem o feedback do Gerenciamento de Desempenho (GD), no qual, ao serem informados sobre os critérios de avaliação das chamadas “Competências Petrobrás”(nas quais consta uma série de itens denominados “Comportamentos Esperados”, descritos e registrados no sistema em uma linguagem extremamente rebuscada), os supervisores deixaram claro que o entendimento de um desses itens era de que os trabalhadores deveriam auxiliar na gestão do efetivo, assumindo dobras de turno, e cobrindo postos temporários no horário administrativo, e que quanto maior esse auxílio maior seria a nota naquela competência.

Alguns supervisores chegaram a mostrar uma planilha “paralela”, construída pelo gerente, com a interpretação atribuída a cada um dos “comportamentos esperados”, na qual constava essa demanda. O que revela uma total falta de transparência no processo de gestão de desempenho e uma desconsideração flagrante pelo bem-estar dos empregados.

Não é de hoje que denunciamos a prática indiscriminada e rotineira das dobras de turno nas refinarias. O que deveria ser uma exceção, tornou-se uma prática comum. Agora, a gestão inova ao transferir o ônus da falta de efetivo para os trabalhadores, oferecendo a promessa de um bônus no Gerenciamento de Desempenho. Além disso, perpetua de forma explícita a cultura de que, para se desenvolver profissionalmente, a operação precisa assumir funções administrativas, o que evidencia a discriminação e desvalorização dos funcionários que atuam em regime de turno.

Essa abordagem não só viola os direitos dos empregados, como também evidencia a falta de comprometimento com a segurança no ambiente de trabalho, colocando os trabalhadores em risco, enquanto a empresa mantém o compromisso de priorizar o lucro acima de tudo.

*O texto foi escrito por um petroleiro que preferiu não ser identificado.

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