Pré-sal representa 75% da produção nacional de petróleo e abastece metade da frota

Atualmente, o pré-sal é responsável por 2,2 milhões de barris diários, com o custo unitário de extração de apenas 3,3 dólares 

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As gigantes norte-americanas Chevron e Shell tiveram oportunidades de explorar o pré-sal, mas desistiram pelos altos custos (Foto: Adobe Stock)

Por Vinicius Konchinski, especial para o Petróleo dos Brasileiros | Edição: Guilherme Weimann

Em 8 de novembro de 2007, já no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um anúncio da Petrobrás causou uma reviravolta na indústria do petróleo nacional. A estatal confirmou naquele dia a existência de até 8 bilhões de barris de petróleo no campo de Tupi, em Santos, ampliando assim em mais de 50% as reservas do óleo já comprovadas no país até então.

Naquela época, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), chamava atenção para a possibilidade de o país atingir outro patamar no mercado mundial do petróleo. “O Brasil passará à condição de país exportador”, dizia ela, no dia do anúncio.

Já consultores privados, como Adriano Pires, que anos mais tarde seria convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para assumir a presidência da Petrobrás, minimizavam o feito alegando que a retirada do óleo descoberto demandaria um trabalho nunca antes realizado: a exploração da chamada camada pré-sal do fundo de oceanos.

Quinze anos depois, o pré-sal já não é um desafio, é realidade. É de lá que o Brasil retira mais de 75% do todo petróleo extraído de seus campos, sejam eles operados pela própria Petrobrás ou por outras companhias, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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É com petróleo extraído do pré-sal que são produzidos aproximadamente metade da gasolina e do diesel que abastecem carros e caminhões no país, de acordo com dados fornecidos pela Petrobrás. Segundo a estatal, no final de 2021, quase 60% do petróleo refinado pela empresa vinha do pré-sal. Como a estatal abastece cerca de 80% do mercado de combustíveis do país, é possível estimar que, só ela, produz 48% da gasolina e do diesel consumidos no Brasil usando o óleo extraído a cerca de 7 mil metros de profundidade.

É a essa distância da superfície que fica a camada do pré-sal. Isso é quase o triplo da profundidade alcançada para a exploração de petróleo em águas profundas, a qual a Petrobrás já era líder quando a descoberta do campo de Tupi foi anunciada. 

Mesmo assim, na ocasião, muitos duvidavam de que a empresa conseguiria tirar petróleo dali. Empresas privadas, inclusive, tiveram a chance de explorar o pré-sal, mas não o fizeram porque não consideravam isso viável financeiramente ou porque não detinham a capacidade técnica para a execução do trabalho.

O economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo (OSP), lembrou que a Chevron era parceira da Petrobrás num projeto de busca de petróleo no pré-sal. Abandonou a iniciativa em 2006 por conta dos custos envolvidos nessa procura.

Já Dilma Rousseff lembrou em entrevista concedida ao Sindipetro Unificado em 2020 que a Shell tinha a concessão do campo de Libra até 2001. Devolveu a área porque não conseguiu retirar petróleo dali. Em 2013, a área foi leiloada como sendo o primeiro campo de petróleo do pré-sal a ser explorado sob regime de partilha. Por esse regime, a União fica com uma parte da produção do petróleo extraído do local.

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Desde o leilão, a produtividade do pré-sal só aumentou com o avanço da tecnologia de exploração. Em 2010, quando a camada começou a ser explorada pela Petrobrás, a perfuração de um poço demorava 310 dias. Em 2018, o tempo já havia caído para 127 dias.

Em 2014, um ano após o leilão de Libra, eram extraídos do pré-sal 500 mil barris de petróleo por dia, em média. Hoje, já são mais de 2,2 milhões de barris diários. Em 2032, segundo a Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério das Minas e Energia (MME), serão 4 milhões – o correspondente a 80% da produção nacional.

Esse petróleo, inclusive, deve ser produzido a um custo cada vez menor. Em 2014, cada barril tirado do pré-sal custava 9,1 dólares à Petrobrás. Hoje, já custa cerca 3,3 dólares, de acordo com Dantas, do OSP. Isso é um quarto do custo de exploração de campos em águas profundas (13,1 dólares por barril).

Hoje, um barril de petróleo custa cerca de 95 dólares no mercado internacional. São quase R$ 500 levando em conta a cotação atual da moeda norte-americana.

O pré-sal revolucionou a indústria de petróleo no Brasil por três motivos: quantidade, qualidade e custo de exploração

Eric Gil Dantas, economista

Dantas explicou que o petróleo vindo do pré-sal tem preferência na comercialização. Isso porque tem uma altíssima qualidade, é um óleo mais leve e tem baixo teor de enxofre. Petróleo com menos enxofre atende melhor normativas de redução de poluentes emitidos na queima de óleo para navios e também do diesel.

“O pré-sal revolucionou a indústria de petróleo no Brasil por três motivos: quantidade, qualidade e custo de exploração”, resumiu o economista. “A Petrobrás foi responsável por esse sucesso. Se não houvesse a Petrobrás, uma empresa nacional e estatal, é possível que até hoje não tivéssemos essa descoberta.”

Hoje, a estatal Pré-Sal SA administra os contratos de partilha do pré-sal, fazendo a venda da parte do petróleo que pertence ao governo. Os recursos obtidos com essa venda, por lei, devem ir para o chamado Fundo Social do pré-sal.

A Lei do pré-sal foi aprovada em 2010, durante o governo Dilma. Estabelece que 75% do dinheiro do fundo social seja usado para investimentos em educação e 25%, em saúde.

Neste ano, Bolsonaro encaminhou um projeto de lei ao Congresso para que essa obrigação seja revista. Seu governo defende que todo o petróleo do pré-sal seja vendido antecipadamente. Se isso ocorrer, o governo não teria projetos suficientes em educação e saúde para aplicar os recursos vindos dessa venda. Estaria então autorizado a decidir como melhor utilizar esses recursos sem mais destinações obrigatórias.

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