Petroleiros debatem conservadorismo e pauta de costumes na tarde deste sábado

Mesa tratou sobre os desafios de fazer política em momento de avanço conservador e contou com a presença da integrante da Marcha Mundial de Mulheres, Maria Luiza da Costa, e do professor da FESP, Rafael da Costa

Encontro debateu avanço do conservadorismo

 

Texto e fotos por Marcelo Aguilar/ Revisão: Guilherme Weimann

Na tarde deste sábado (6), como programação do Seminário de Planejamento da Direção do Sindipetro Unificado, ocorreu um debate sobre os desafios da pauta de costumes e o avanço do conservadorismo no Brasil. A mesa contou com a integrante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Maria Luiza da Costa (Luizinha), e com o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), Rafael da Costa.

Para Luizinha, “as pautas relacionadas às mulheres, aos povos tradicionais, a questão racial e LGBTQIA+ devem se tornar um compromisso efetivo, prioritário”. De acordo com a militante, é preciso analisar desde a situação mais macro até a situação mais micro, para mudar realmente o cotidiano das pessoas: “Vai desde a violência contra mulheres parlamentárias, que é da pior espécie, até fatos como as mulheres que fazem o mesmo trabalho e ganham menos que os homens. São 51 mil mulheres que sofrem algum tipo de violência por dia no Brasil, somos o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo”. Na sua visão, só incorporando essas pautas será possível imaginar um novo modelo de sociedade.

Luizinha apontou caminhos para o debate sobre a pauta de costumes

O diretor do Sindipetro Unificado, Pedro Augusto, concorda: “Se pensarmos que essas pautas estão no terreno da direita e que não devemos disputá-las estamos perdidos. Para grande parte do povo brasileiro a experiência de viver nesse mundo é marcada pelo fato de ser negro, ser mulher, ser LGBTQIA+. Sem entender isso estaremos limitando ainda mais nosso campo de ação”.

Para Luizinha, o avanço da direita responde a uma ação coordenada e ampla no campo da disputa ideológica: “A direita fez o pacote inteiro. Contra aborto, contra as drogas, contra a ideologia de gênero, a favor das privatizações, contra o comunismo. Fazem um pacote ideológico completo, baseado no medo, e a esquerda não tem conseguido fazer isso, fala dos programas sociais, do salário mínimo, dos reajustes, dos avanços, mas não foca tanto nessas pautas”. Segundo a militante, é necessário “mostrar para as pessoas que sua situação particular é fruto de uma política macro, esse é um elemento muito importante para não dissociarmos nossa atuação do cotidiano das pessoas”.

Afrontar a contradição

O pesquisador analisou o papel dos evangélicos

O professor da FESP, Rafael da Costa, introduziu no debate o papel dos evangélicos no cenário político atual e colocou uma contradição central: “em geral são mulheres negras, pobres, periféricas, pessoas que fazem parte de grupos que a esquerda diz ou quer representar e ao mesmo tempo eles não se vêm contemplados pela nossa atuação política. É preciso pensar como lidar com essa contradição”.

Os evangélicos são cada vez mais numerosos no Brasil. Segundo levantamento do Datafolha de 2020, estima-se que os evangélicos representam quase 31% da população do país e 7 de cada 10 evangélicos votaram em Bolsonaro em 2018. Os evangélicos, na visão do pesquisador, dão alta capilaridade para a pauta da extrema direita, e mostram uma homogeneidade e unidade política inédita, num grupo que parecia difuso: “Os evangélicos ganharam pautas que lhes eram estranhas, e colocaram as igrejas como elemento aglutinador, o mal é a esquerda, o mal é o PT, eles são responsáveis por essa crise que se avizinha. O papel da igreja é se posicionar e governar o mundo, porque estamos vivendo a proximidade do juizo final. Uma visão apolcalíptica que colocar a esquerda como encarnação do mal”. Para isso, afirma Costa, “realizam uma gestão muito competente do medo, colocam pautas de cunho moral que conseguem assustar e aglutinar pessoas, mas ao mesmo tempo dão esperança de um amanhã melhor”.

Mas para o pesquisador, esse laço evangélico responde mais a questões de pertencimento e não a afinidades políticas: “Vivemos um momento de profunda crise da ideia de comunidade, e as igrejas aproveitam esse vácuo, criam um vínculo de pertencimento, um espaço ao qual pertencer. Isso é determinante para entender o rápido crescimento evangélico e sua enorme capilaridade social”.

Para Pedro Augusto, isso deve ser entendido como elementos constituintes do capitalismo e lidos nesse contexto: “Às vezes a gente fala dos evangélicos como se fosse uma coisa muito estranha e única, mas na verdade os evangélicos são variados, gente que está espalhada pelo Brasil inteiro, e a diversidade entre eles também existe. Existem evangélicos gays, comunistas, mas o uso da igreja evangélica como instituição política é outra coisa. É utilizar valores conservadores e ideias que já estavam na sociedade, não foram inventadas por eles. Esses são elementos próprios do capitalismo e a gente precisa discutir sobre isso”.

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