Trabalhadores do administrativo terão que pagar todas as horas perdidas durante a greve de fevereiro, o que na prática inviabiliza item acordado no Tribunal Superior do Trabalho
Por Guilherme Weimann
A Petrobrás se aproveitará da pandemia para cortar ainda mais os salários de parte de seus trabalhadores. Após a greve que transcorreu nos 20 primeiros dias de fevereiro deste ano, as representações sindicais da categoria e a estatal chegaram a um acordo, mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), para o trabalho voltar à normalidade. Um dos itens definiu que metade dos dias parados seria descontado dos salários e a outra metade compensada no banco de horas pelo prazo de seis meses.
Entretanto, logo no início da pandemia do novo coronavírus, a companhia estabeleceu de forma unilateral o regime de teletrabalho compulsório para todos os funcionários do administrativo, com redução de jornada de oito para seis horas e diminuição proporcional de 20% dos salários, sem possibilidade de realização de horas extras.
Além disso, uma parcela dos petroleiros do regime de turno ininterrupto também foi direcionada ao teletrabalho, com cortes nas remunerações que variaram entre 37,5% e 49%. Atualmente, apenas casos excepcionais continuam em trabalho remoto, o que também causará impacto em relação às horas da greve.
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Para o mecânico da Refinaria de Paulínia (Replan) e diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), Gustavo Marsaioli, essa postura demonstra uma falta de empatia da Petrobrás com seus trabalhadores.
“Seria razoável que a empresa considerasse que esse é um ano totalmente atípico e que muitas pessoas tiveram redução de jornada de forma unilateral, sem acordo com os sindicatos. Diferentemente do turno, o administrativo tem uma demanda de horas extras muito menor, o que impossibilita que esses trabalhadores façam a compensação dessas horas perdidas na greve como está previsto no acordo com o Ives Gandra [ministro do TST]”, afirma Marsaioli.
Procurada, a companhia afirmou que já estendeu o prazo por três meses e que os seis meses estabelecidos em acordo com o TST venceria em agosto. Por isso, fará o cálculo dos dias da greve junto com o balanço do banco de horas deste ano e realizará os descontos nos pagamentos em janeiro do próximo ano.