O representante dos empregados no Conselho de Administração da Petrobrás, Danilo Silva, foi o único voto contrário no CA à venda a toque de caixa das ações da BR Distribuidora. Nesta entrevista, concedida por telefone no embarque do Rio de Janeiro para Campinas, Danilo explica por que votou contra a maioria do Conselho e os riscos da privatização da Distribuidora.
Por Norian Segatto
JP – Por que você votou contra a venda das ações da BR Distribuidora pela Petrobrás?
Danilo Silva – Eu fui o único voto contra. Acho que há alguns problemas muito sérios nesse processo, que não foram devidamente avaliados, pois o posicionamento da atual administração da empresa é o alinhamento incondicional à política de desmonte da Petrobrás promovida pelo governo Bolsonaro.
Em sua opinião, quais seriam os principais problemas ?
Danilo – Primeiro, foi um processo muito rápido, sem debate com a sociedade. Foram menos de trinta dias entre o anúncio do fato relevante e a venda das ações. Esse é um questionamento, se a Petrobrás e a BR são empresas públicas e se faz uma operação dessa magnitude, a sociedade, por meio do parlamento e das entidades, deveria ser ouvida, mas o que prevaleceu foi a lógica de empresa privada. Segundo, que é o mais importante em minha opinião, é a perda do controle sobre a distribuição, ou seja, a Petrobrás não terá mais o controle de como seu produto irá chegar ao consumidor, o que é muito grave em um país das dimensões do Brasil.
Você acha que pode ocorrer desabastecimento?
Danilo – A lógica de uma empresa pública é prestar um serviço para a sociedade e ter retorno econômico com isso. E qual é a lógica de uma empresa privada? Apenas o lucro! Então, por exemplo, se não for lucrativo para a BR privatizada fornecer para o Acre, as pessoas desse estado terão sérios problemas de abastecimento, ou irão pagar um preço muito alto pelo produto. Veja o caso da telefonia, depois de trinta anos de privatização, os serviços ainda são ruins em muitas regiões e nós pagamos as tarifas mais caras do planeta.
E qual é a vulnerabilidade da Petrobrás sem o controle da distribuição?
Danilo – Além dessa questão central que eu apontei, há outra muito grave. E se, daqui a algum tempo, a BR resolver começar a comprar de outra empresa, da Shell, por exemplo, em vez da Petrobrás? Vão dizer, ah!, mas isso faz parte da lógica da concorrência. Isso é apenas em parte verdade, porque a Petrobrás está sendo desmontada por uma decisão política e não por essa tal lógica de mercado, pois não faz sentido se desfazer de uma empresa altamente lucrativa, como a BR Distribuidora e se tornar refém de um jogo empresarial, estar sujeita a uma série de variáveis.
Por exemplo?
Danilo – Se uma concorrente quiser praticar dumping [venda por preço artificialmente abaixo do praticado no mercado], por exemplo, para tirar a Petrobrás do mercado, a BR pode optar por parar de comprar da Petrobrás. Ah!, mas têm órgãos reguladores, é verdade, porém, com essa configuração de governo, que está de joelhos para os Estados Unidos, alguém acredita que o Bolsonaro vai comprar briga com a Chevron para defender a Petrobrás?
E como ficam os trabalhadores da BR agora?
Danilo – Vai começar a vida sob a ótica da lógica de uma empresa privada, com ataques muito mais fortes aos direitos conquistados. Cabe à organização sindical e aos trabalhadores, resistir e enfrentar esse gravíssimo momento.