Privatização da Petrobrás pode colocar em risco parceria com um dos maiores programas de preservação ambiental do país
Por Andreza Oliveira
Nesta sexta-feira (05), uma série de ações estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo no marco do Dia Internacional do Meio Ambiente. O Brasil, entretanto, parece estar na contramão também nesse aspecto, que se mostra ainda mais urgente neste momento da pandemia do novo coronavírus.
O Projeto Tamar, com abrangência territorial que se estende do estado do Ceará até Santa Catarina, é uma das principais iniciativas brasileiras de preservação ambiental e de conservação da vida de milhares de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. A iniciativa conta com o patrocínio da Petrobrás em uma parceria que já dura 38 anos.
O atual cenário político, entretanto, é um dos fatores de preocupação para o projeto. Na última semana, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, anunciou o fechamento de três bases de conservação de tartarugas marinhas localizadas em Camaçari (Bahia), Parnamirim (Rio Grande do Norte) e Pirambu (Sergipe), pertencentes ao Centro Tamar.
O Ministério do Meio Ambiente está sob o comando do advogado Ricardo Salles, que afirmou recentemente que a pandemia poderia ser uma oportunidade para “passar a boiada” na Amazônia e dar andamento às reformas infralegais.
Biodiversidade
Nos seus 38 anos de atuação, o Projeto Tamar devolveu cerca de 40 milhões de tartarugas ao oceano, além de ter se transformado em referência na pesquisa e educação ambiental
Fundador do projeto, Guy Marcovaldi explica que as bases recentemente fechadas já estavam inoperáveis há algum tempo e que, atualmente, a maior ameaça ao projeto é a crise do novo coronavírus. “Por conta da pandemia, a nossa principal fonte de renda para a permanência do projeto está sendo a Petrobrás, visto que tivemos de fechar as nossas lojas e visitações às sedes dos projetos”, afirma.
Marcovaldi comenta ainda que, como exploradora do oceano para obtenção do petróleo, a Petrobrás tem o compromisso socioambiental de contribuir nas campanhas e pesquisas da área, e admite que uma eventual privatização da empresa gera apreensão sobre a continuidade da parceria histórica. “Já que ela explora os recursos marinhos, tem a obrigação de ajudar as instâncias que preservam esse ambiente. Espero que não privatizem a Petrobrás”, aponta o ambientalista.
Riscos da privatização
O processo de desestatização da companhia também é um dos receios que preocupa um ex-trabalhador da estatal que participou do processo e planejamento da parceria da Petrobrás com o Projeto Tamar. Para o ex-petroleiro, que preferiu não se identificar, a gestão de Roberto Castello Branco tem se focado apenas na redução do tamanho da empresa. “Fazer uma atuação menor na área ambiental, que hoje é visto como um custo e não como algo fundamental, é uma tática compatível com o perfil da gestão atual da companhia, que busca reduzir ao máximo seus custos”, reitera o ex-funcionário.
Ainda de acordo com o ex-empregado da Petrobrás, a parceria com o Projeto Tamar funciona como estratégia para a reparação ambiental e, atualmente, é o maior símbolo de que a estatal se preocupa com o meio ambiente. “A Petrobrás, enquanto extrativista, expõe a vida marinha a riscos, então não é um favor que ela patrocine um projeto ambiental deste porte. Apesar da empresa não estar relacionada diretamente à diminuição das tartarugas marinhas, a parceria com o projeto funciona na tentativa de tentar equilibrar as suas ações”, completa o ex-funcionário.