Por Norian Segatto
O megaleilão realizado no dia 5 frustrou as expectativas do governo e do “deus mercado”, que imaginavam um volume de R$ 106 bilhões de recursos para os cofres públicos. No entanto, não houve interesse das grandes petrolíferas na mega entrega oferecida pelo governo. Coube à Petrobrás oferecer e arrematar duas das quatro áreas ofertadas: a de Búzios, na qual a brasileira participa com 90% e a de Itapu, com proposta única da Petrobrás. As outras duas áreas sequer tiveram ofertas. O leilão acabou arrecadando R$ 69,9 bilhões.
Por que não houve interesse
Desde o início da crise que culminou no golpe que derrubou a presidente Dilma, diversos movimentos foram feitos para enfraquecer a Petrobrás, retirá-la como operadora dos campos de pré-sal e mudar a lei de partilha, criada em 2010. A posição do movimento sindical petroleiro, em conjunto com outras forças populares, foi imprescindível para barrar o desmonte da lei de partilha. Mesmo assim, o país colecionou algumas derrotas, como a aprovação pelo Senado, em fevereiro de 2016, da não obrigatoriedade de participação da Petrobrás na exploração do pré-sal.
Para o economista Rodrigo Leão, do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo), conforme reporta o site da FUP, “esse leilão ofertou reservas excedentes de campos da cessão onerosa que já estão em produção, operados pela Petrobrás. A entrada de uma nova operadora demandaria o estabelecimento de uma nova estrutura produtiva numa área onde ela já existe. Isso afastou empresas interessadas em ingressar no leilão como operadoras”.
Pressão pela mudança da lei
Na ausência das grandes petrolíferas ficou clara a pressão para que a lei de partilha caia ou sofra alterações profundas, retirando da Petrobrás o protagonismo da operação. No jornal da Globo, o porta voz do mercado, Carlos Alberto Sardenbergh, foi explícito em afirmar que o “fracasso” do megaentregão se deveu à lei de partilha e intimou o Congresso a mudar a lei em benefício das empresas estrangeiras.
A Petrobrás sai fortalecida desse leilão, com praticamente o dobro de reservas que possuía, o que reforça, ainda mais, a luta contra sua privatização e contra a entrega das áreas do pré-sal, do parque de refino e da estrutura logística para os tubarões do mercado.
Petroleiros da Replan protestam contra entrega do pré-sal
Alessandra Campos
No mesmo horário em que o governo Bolsonaro promovia o maior leilão de petróleo da história brasileira, petroleiros da Replan realizavam uma manifestação contra a entrega do pré-sal a empresas estrangeiras e contra a privatização da Petrobrás.
Além de dirigentes sindicais, participaram do ato o pesquisador do Ineep Henrique Jagger, do mestrando em Geografia na Unicamp Carlos Salazar.
Jagger apresentou aspectos históricos do pré-sal e mostrou os impactos negativos do processo de privatização. Salazar, que foi petroleiro da Replan durante 12 anos, abordou a geopolítica do petróleo e o advogado falou sobre a estratégia de defesa jurídica contra os leilões e as privatizações.