O movimento é formado por cerca de mil pessoas, vindas da Baixada Fluminense e de bairros da Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro
Por Mariana Pitasse, do Brasil de Fato
Desde o último sábado (1º), Dia do Trabalhador, uma ocupação urbana está sendo construída em terreno em desuso da Petrobrás, localizado em Itaguaí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O movimento é formado por cerca de mil pessoas, vindas da Baixada Fluminense e de bairros da Zona Oeste da capital.
Batizada de “Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio”, a ocupação está sendo organizada pelo Movimento do Povo, com o apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) de Itaguaí, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central Única das Favelas (Cufa), entre outras organizações sociais e movimentos sindicais.
De acordo com Eric Vermelho, uma das lideranças locais e membro do Movimento do Povo, a ocupação tem se expandido nos últimos dias e conquistado apoio dos moradores da cidade.
“Nós salvamos essa terra, que estava cedida para criadores de boi e também utilizada há alguns meses de aterro sanitário clandestino. Eles tiravam a terra boa, jogavam lixo doméstico e, depois, a lama do rio para cobrir. Ou seja, estavam degradando todo o solo. Estamos tomando as providências para fazer a denúncia”, explicou ao Brasil de Fato.
Protesto
A ocupação foi organizada como um protesto contra a falta de moradia, de comida e de vacina da covid-19, segundo a FUP informou em nota. Também contra a política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobrás, baseada no Preço de Paridade de Importação (PPI).
“Essa mobilização quer chamar atenção da sociedade para a importância da Petrobrás e denunciar a política covarde de reajustes dos combustíveis que a gestão da empresa aplica desde 2016, com apoio do governo federal. Nessa crise social e econômica provocada pela pandemia, muita gente está usando lenha e álcool para cozinhar, isso quando tem comida, porque o gás de cozinha está caríssimo. Quem lucra com isso são os acionistas da Petrobrás e quem está pagando a conta é a população mais pobre, o trabalhador e a trabalhadora”, explica Alessandro Trindade, diretor do Sindipetro-NF.
Polo não saiu do papel
O local escolhido para a ocupação fica em frente ao antigo Boteco Cadena, no bairro Ponte Preta – na avenida Deputado Octávio Cabral, em Itaguaí. O terreno seria utilizado para instalar o Polo Petroquímico e a Zona de Processamento e Exportação da cidade, no entanto, o projeto nunca saiu do papel.
O polo foi planejado pelo governador do estado do Rio de Janeiro, Moreira Franco, em parceria com a Petrobrás, em 1986. Através de um decreto, o então presidente Sarney estabeleceu Itaguaí como a sede. A pedra fundamental da obra chegou a ser lançada, com licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e todos os estudos de impacto necessários a uma obra desse porte.
Procurada pelo Brasil de Fato, a assessoria da Petrobrás não respondeu aos questionamentos sobre o uso do terreno e o porquê de os projetos não terem sido operacionalizados até hoje. Em nota, a petroleira apenas disse que “confirma que o terreno pertence à companhia e que está adotando as medidas cabíveis para reintegração da área”.
Trindade, diretor do Sindipetro-NF, rebate argumentando que o terreno pertence à Petrobrás e, portanto, à União. “É um terreno da Petrobrás e, portanto, da União. Logo, é um terreno do povo brasileiro, por isso criamos esse acampamento aqui. Em vez de as pessoas morarem na rua, elas têm de ter acesso a terra e comida”, conclui.