Aniversário de dois anos de uma das maiores trapalhadas ambientais da história do refino: a operação de um lixão bem no meio da área de processo da Refinaria de Capuava
Por Bronca do Peão*
O Lixão da Refinaria de Capuava (Recap) foi “inaugurado” em algum dia de julho de 2022, com bastante discrição. Totalizava um volume de 150 metros cúbicos e foi instalado em dois tanques de concreto de cinco metros de profundidade, antigamente utilizados para o armazenamento do enxofre da URE-I. Com a desativação dessa Unidade, alguma “liderança” teve a inacreditável ideia de preencher o vazio desses tanques com placas de canaletas fora de especificação, além daquelas bem antigas e impregnadas de óleo que estavam sendo substituídas. Acontece que no plano de desmonte da URE-I apresentado à Cetesb consta o compromisso de preencher os antigos tanques de enxofre apenas com solo inerte, para evitar contaminação. O próprio fiscal daquele órgão ambiental esteve na Recap no início de julho quando, acompanhado por gerentes da refinaria, presenciou a abertura de furos no fundo dos tanques para permitir a drenagem da água que seria utilizada para acomodar esse solo.
Em uma sexta-feira à tarde, 15 de julho, a equipe de meio ambiente da Recap tomou conhecimento do Lixão e orientou a paralisação imediata do descarte de resíduos, bem como comunicou o fato às lideranças. Mas para a surpresa dos incautos, durante aquele final de semana o despejo de rejeitos foi retomado, intensificado e diversificado, com o depósito de entulhos de obra, lonas plásticas, EPIs usados, lixo orgânico e um monte de eteceteras. Tudo já estava sendo coberto por areia e por fim seria colocada uma lápide de concreto em cima, talvez com o epitáfio “non ne parliamo più”, como diria Al Capone.
A farofada foi suspensa novamente pela equipe de meio ambiente, alertada por operadores e prestadores de serviço indignados com aquele mau exemplo. Consultadas, as lideranças apresentaram versões incompletas e conflitantes para explicar o inexplicável.
Após uma semana de lenga-lenga, o Lixão começou a ser esvaziado e tudo indicava um final feliz. Porém, dias depois, gerentes e cotur vieram com nova conversa mole, alegando que a retirada das placas de concreto representaria risco de acidentes para os trabalhadores envolvidos na movimentação de cargas e informando que os resíduos contaminados seriam enterrados por lá mesmo. O curioso é que não houve essa mesma preocupação gerencial quando os trabalhadores tiveram que trazer as placas de canaleta lá do Vibrapar, nem quando foram colocá-las no fundo dos tanques. Diante de tamanha desculpa esfarrapada, a equipe de meio ambiente demonstrou disposição para denunciar o caso do Lixão em outras instâncias, se necessário. Encerrado o impasse, a limpeza dos tanques foi retomada e a determinação da Cetesb finalmente cumprida. E claro, tudo ficou limpinho para a visita da gerente executiva no dia 10 de agosto.
Assim terminou a insana iniciativa de tentar empurrar quase duzentas toneladas de lixo para debaixo do tapete da refinaria, na contramão do lema regional do RefTop: “por uma Recap mais limpa, segura e organizada”. Quem idealizou ou tocou adiante tamanha ideia de jerico provavelmente sabia que estava fazendo coisa muito errada e só recuou porque, desta vez, houve reação dos trabalhadores. Mas para além disso, aparentemente nada aconteceu. Houve registro do incidente? Foi criado grupo de trabalho para analisar a anomalia? Alguma “liderança” foi responsabilizada pela exposição desnecessária dos trabalhadores ao risco de acidentes, ou teve que dar satisfação sobre os custos operacionais dessa empreitada maluca? Disso tudo, só o que se sabe é que essas mesmas “lideranças” ainda hoje dão as caras no Workplace para arrotar conceitos de ESG à força de trabalho da Recap.
E isso tudo só aconteceu porque o SMS também foi vitimado pelo desmonte da Petrobrás durante os governos neoliberais-fascistas. Desde então, o meio ambiente do refino segue esfolado e sangrando de ponta-cabeça na cruz diagonal, feito um prisioneiro do Forte Pavor da Casa Bolton, de Game of Thrones. Já em tempos progressistas e democráticos, no início deste ano foi criado o POMA (Projetos Operacionais de Meio Ambiente) em todas as refinarias, mas trata-se de uma gerência setorial que já nasceu tímida em seu escopo de atuação, esvaziada e sem autonomia. Caso a direção da Petrobrás não retome com urgência o modelo de estruturas locais de meio ambiente validadas, aprimoradas e fortalecidas durante mais de uma década, o refino continuará sendo um campo aberto para que parlapatões promovam suas fanfarronices contra o meio ambiente e negligenciem a segurança dos trabalhadores, o que é coisa muito séria.