Bronca do Peão: Falhas estruturais colocam em xeque a segurança da categoria

Em menos de dois meses, seis trabalhadores perdem a vida em acidentes que expõem a negligência com a segurança no Sistema Petrobrás

Trabalhadores e trabalhadoras exigem mudanças na política de SMS da Petrobrás (Fotos: Guilherme Gandolfi)

O Sistema Petrobras enfrenta uma crise alarmante, que coloca em xeque sua responsabilidade com a segurança e o bem-estar de seus trabalhadores. Em menos de dois meses, seis petroleiros perderam a vida em acidentes fatais, refletindo não apenas a negligência em protocolos de segurança, mas também a precarização de práticas essenciais. Diante deste cenário, é impossível não cobrar ações imediatas das gestões para evitar que essa tragédia continue.

Seis mortes em menos de dois meses: até quando?

Os números são chocantes e trágicos: seis trabalhadores perderam a vida em menos de dois meses. O acidente mais recente, no Terminal da Transpetro em Angra dos Reis (RJ), tirou a vida de dois petroleiros e deixou outro gravemente ferido. Apenas dois dias depois, um trabalhador da empresa Aliseo, morreu no Complexo Portuário do Açu (RJ) após sofrer paradas cardíacas durante o trabalho.

A recorrência de fatalidades aponta para um problema sistêmico, evidenciado pela ausência de ações preventivas robustas e pela falta de atenção ao planejamento operacional. Atos realizados em unidades de todo o país na última sexta-feira (29) mostraram a indignação dos trabalhadores, mas, até agora, as gestões permanecem em silêncio ou, pior, buscam culpados em vez de soluções.

As tragédias registradas no Sistema Petrobrás ( ) têm um padrão alarmante: a maioria das mortes e acidentes graves envolve trabalhadores de empresas terceirizadas. Essa relação não é coincidência, mas o reflexo de uma política que prioriza a redução de custos em detrimento da segurança. A falta de treinamento adequado, a precarização dos vínculos empregatícios e o desprezo pelos padrões de segurança da própria estatal formam um terreno fértil para esses incidentes fatais. Enquanto no sistema se insiste nesse modelo, vidas continuam sendo perdidas de forma evitável.

TRANSPETRO – O colapso do Grupo de Planejamento de Intervenção

Desde 2019, a Transpetro implementou mudanças no Grupo de Planejamento de Intervenção (GPI), reduzindo sua eficiência em nome da redução de custos. O operador emitente de Permissão de Trabalho (PT), figura essencial para a segurança das operações, foi substituído por um modelo fragmentado, onde cada setor emite suas PTs de maneira independente, muitas vezes sem supervisão adequada.

Essa alteração comprometeu os padrões de segurança e transformou o GPI em um “quebra-galho”, desrespeitando práticas previstas em padrão. Quando acidentes acontecem, os relatórios apontam falhas no planejamento, mas as mudanças gerenciais que levaram a essa situação permanecem intactas. A Transpetro precisa responder: por que a segurança dos trabalhadores foi colocada em segundo plano?

Reduzir custos com pessoal em detrimento da segurança é uma escolha que coloca vidas em risco diariamente. A empresa precisa explicar se novos acidentes serão inevitáveis sob esse modelo falho.

Adicional de Dutos: Um avanço que divide

O adicional de dutos da Transpetro, conquista histórica da categoria, deveria ser motivo de comemoração, mas a exclusão de setores que entendem cumprir as premissas do benefício gerou divisões e frustrações. O que era para ser um reconhecimento virou uma ferramenta de segregação, impactando negativamente a saúde psicológica dos trabalhadores preteridos.

O Movimento sindical, continuará na luta, para que a Transpetro reconheça essa desigualdade e garanta que todos os trabalhadores em condições de receber o adicional sejam contemplados. Não há justificativa para tratar com descaso aqueles que desempenham funções essenciais para o funcionamento da companhia.

Déficit de Efetivo: A urgência por concursos públicos

Outro fator que agrava a insegurança no Sistema Petrobrás é o déficit de efetivo. A sobrecarga dos trabalhadores e a ausência de pessoal capacitado comprometem diretamente a qualidade das operações.

Chamadas do cadastro reserva do último concurso e a abertura de novos processos seletivos são medidas urgentes. A negligência em ampliar o quadro de funcionários não só aumenta o risco de acidentes, mas também demonstra um descompromisso com a sustentabilidade das operações a longo prazo.

Responsabilidade e ação: chega de negligência

A série de fatalidades, a precarização de políticas como o GPI, a desigualdade no adicional de dutos da Transpetro e o déficit de efetivo compõem um retrato preocupante da gestão atual da Petrobrás e da Transpetro. Não se trata apenas de problemas operacionais: vidas estão sendo perdidas e trabalhadores estão sendo desvalorizados.

( ) Não bastam discursos ou relatórios vazios. É necessário que as empresas que compõem o Sistema Petrobrás assumam sua responsabilidade, invista em segurança, valorize seus trabalhadores e respeite os padrões que sustentam suas operações. A categoria exige respostas e ações concretas, e não aceitará nada menos do que o cumprimento de seu dever com quem, todos os dias, coloca sua vida em risco para sustentar essa gigante estatal.

* O texto foi enviado por petroleiro da base que preferiu não se identificar.