Discriminação e desigualdade persistem na Replan e trabalhadoras questionam até quando a lei 14.611 será ignorada
Por Bronca da Peã*
A lei nº 14.611, que aborda a igualdade salarial e de critérios remuneratórios, modifica o artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e obriga empresas com mais de 100 empregados a adotar medidas para garantir igualdade, incluindo transparência salarial, fiscalização contra discriminação, programas de diversidade e inclusão, e apoio à capacitação de mulheres. Mas mesmo assim, a realidade da Replan ainda é bem diferente do que a lei determina.
Apesar do piso salarial ser o mesmo para todos os trabalhadores de mesma função quando ingressam na companhia, é nítido que a progressão de carreira das mulheres, especialmente da área técnica, avança a passos bem mais lentos do que a dos colegas homens. Principalmente para aquelas que “insistem” em fazer turno porque os homens, de maneira geral, acreditam que a função operacional é incompatível com a mulher (seja pela força física, seja pela falta de estrutura da companhia, seja pela maternidade ou seja simplesmente pelo machismo estrutural de uma sociedade que ainda acredita que o lugar de mulher é em casa cuidando dos filhos).
E mais frustrante do que a falta de valorização é ouvir de nossos colegas que o machismo não existe. Mas que outro nome pode ser dado a frases como essas?
– ELE justificou minha avaliação ruim porque engravidei no período.
– ELE entrou na sala, me viu e mesmo assim perguntou se meu colega iria trabalhar sozinho naquele dia.
– ELE justificou minha nota baixa do GD porque eu deveria ser “mais doce”.
– ELE passava o serviço dizendo “quero ver quanto tempo vai aguentar”.
– ELE me mandava falar baixo quando atendia ligações porque a esposa não poderia saber que trabalhava com mulheres.
– ELE sempre diz que não foi dessa vez, mas que eu posso melhorar, quem sabe o ano que vem.
– ELE reclamou para o chefe de que não iria se acostumar a receber ordens de uma mulher.
– Subiam na janela para me ver tomando banho, tinha medo de usar o vestiário.
– Te avaliei bem, mas ELE mandou abaixar sua nota.
– ELE falou que eu era quietinha demais (na verdade ELE que não me enxergava, só me avaliava pela ótica masculina). Por isso me avaliou mal.
Esses são os depoimentos das trabalhadoras da Replan e “ELE” é o gerente, o supervisor, ou o colega de trabalho.
Então, meus senhores, tenho que contar que o machismo existe sim e continua a gerar danos à vida e à carreira das trabalhadoras que ficam sem aumento por mérito por 10, 15 e até 20 anos, tendo que muitas vezes trocar de horário ou de função para recomeçar a luta por respeito, equidade salarial e progressão de carreira.
E os privilégios? Desculpem, mas privilégio a gente nunca pediu. E desistir nunca foi uma opção.