Nesta quinta-feira (20), trabalhadores das refinarias de Capuava e Paulínia realizaram atos contra os equacionamentos que assolam principalmente aposentados e pensionistas
Por Guilherme Weimann e Vítor Peruch
Quem tem o contracheque zerado, tem pressa – e muita. E, por isso, torna-se mais difícil dimensionar os avanços que ocorreram e estão ocorrendo dentro da categoria petroleira. Há menos de dois anos, no fim do governo Bolsonaro, os trabalhadores da Refinaria de Paulínia (Replan) tinham que realizar suas assembleias na beira da rodovia, sem direito a banheiro, sofrendo coação da Polícia Rodoviária Federal.
Hoje (20), com inúmeros desafios ainda por enfrentar, os petroleiros puderam realizar uma marcha de aproximadamente um quilômetro dentro da unidade, com uma reivindicação bastante concisa e objetiva, sublinhada em uma das faixas da manifestação: “Respeitem os trabalhadores que construíram a Petrobrás”.
Juntaram-se por volta de 150 trabalhadores da Petrobrás e apoiadores de outras categorias nesta luta que visa resolver de forma definitiva os equacionamentos que têm corroído grande parte da remuneração de aposentados e pensionistas, principalmente.
No meio da mobilização, o engenheiro de processamento da Replan, Uiram Kopcak, fez questão de exaltar a trajetória do aposentado Sérgio Marcatti, como uma forma de chamar atenção para a importância da união em torno dessa pauta: “Eu gostaria de chamar esse lutador, que foi demitido da Petrobrás em 1983 por realizar uma greve e, em decorrência disso, teve que vender leite por muito tempo em Barão Geraldo para sobreviver. E, mesmo assim, está aqui, continua lutando. E nós, da ativa, precisamos fazer o mesmo”.
Apesar de agradecer o movimento de solidariedade, o também aposentado Wilson Santarosa, que foi o primeiro conselheiro da Petros, na década de 1990, alertou os trabalhadores da ativa: “Apesar do plano da maioria de vocês ser de contribuição definida, instaurado à força pela Petrobrás a partir do início dos anos 2000, a Petros tem apresentado déficit, o que pode impactar na remuneração que vocês terão direito no futuro. Então essa luta também é de vocês”.
Nesse sentido, o coordenador da Regional Campinas do Sindipetro Unificado, Steve Austin, afirmou que os petroleiros não vão parar até que a Petrobrás pague a dívida que ela tem com a Petros: “Quando a Petros foi criada, a Petrobrás colocou um monte de pessoas prestes a aposentar, mas não colocou os recursos necessários. Isso gerou um déficit que se arrasta até hoje, que gira em torno de R$ 36 bilhões. Ela precisa pagar, é sua responsabilidade”.
Participaram estudantes da Unicamp e integrantes da Consulta Popular, que ressaltaram em suas falas e intervenções musicais o papel estratégico da Petrobrás para o desenvolvimento e para a soberania nacional.
Recap
O ato na Recap também contou com a união entre trabalhadores da ativa e aposentados pelo fim do equacionamento. Além disso, os trabalhadores e trabalhadoras da ativa presentes votaram pela aprovação do aditivo ao ACT, que permite a redução do custeio da AMS (plano de saúde complementar da Petrobrás).
O diretor do Departamento de aposentados (Daesp), Carlos Cotia, destacou a importância do ato e da assembleia: “Hoje é uma assembleia diferente e importante, pois vamos alterar o ACT para inserir direitos dos trabalhadores que foram resgatados. Mas também há uma outra conversa muito séria e fundamental, que não atinge a maioria de vocês, mas que no futuro pode acontecer”.
Sobre os equacionamentos, Cotia recordou algumas premissas atuariais que possibilitaram o déficit atual: “Hoje pagamos um equacionamento por erros da Petrobrás no plano, por premissas atuariais absolutamente impraticáveis. Uma delas era a expectativa de vida média de 65 anos. Por essa premissa, estaríamos quase todos nós [aposentados] mortos”.
Já o diretor do Sindipetro Unificado, Pedro Augusto, também falou sobre a necessidade de defender os direitos dos aposentados durante a nova gestão da Petrobrás e citou a cerimônia de posse da nova presidenta da Petrobrás, Magda Chambriard, realizada ontem (19) no Rio de Janeiro (RJ): “Ontem estivemos na cerimônia de posse, mas estávamos com uma placa de ‘Não aos PEDs’, não para atrapalhar a cerimônia, mas para mostrar que não estávamos ali para bater palma sem realizar as cobranças necessárias”.
Augusto ressaltou que, “quando a Petrobrás ataca o companheiro e a companheira aposentados, ela está atacando a história, ela está atacando aqueles e aquelas que fizeram com que hoje nós pudéssemos estar aqui. Aqueles que construíram essa empresa sendo essa potência econômica, técnica e que hoje é a possibilidade para que a gente possa fazer uma transição energética justa neste país”.
O petroleiro também falou sobre a importância de se concretizar o programa de governo para essa gestão em relação ao tema de energia: “O programa que foi eleito nas urnas em 2022 para a Petrobrás é de retomada. A retomada de direitos, de fortalecimento da indústria nacional, de fortalecimento da indústria naval, das obras que colocariam a Petrobrás numa condição de pleno abastecimento do país. E, obviamente, respeita os aposentados e aposentadas que construíram essa empresa”.