Ato nacional em defesa dos participantes da Petros reuniu petroleiros em frente ao prédio da Petrobrás em Santos; dois ônibus do Sindipetro Unificado saíram de Mauá e Campinas rumo à mobilização

Por Vítor Peruch
Convocado pelo Fórum das Entidades em Defesa dos Participantes da Petros, o ato realizado nesta quarta-feira (29), em frente ao Edisa, prédio da Petrobrás em Santos (SP), reuniu aposentados, pensionistas e trabalhadores da ativa em defesa de uma solução definitiva para os equacionamentos (PEDs) que comprometem a renda dos beneficiários do fundo de pensão. A manifestação integra uma jornada nacional descentralizada, com mobilizações simultâneas em unidades da Petrobrás em Salvador (Torre Pituba), Aracaju (Ediser) e Manaus (Ediman) e outras bases das federações da categoria petroleira. O ato que iria ocorrer no Rio de Janeiro foi cancelado em função da grave situação de segurança pública da cidade.
O Sindipetro Unificado levou dois ônibus ao ato de Santos — um partindo de Mauá e outro de Campinas — reforçando a presença da categoria na mobilização. Com faixas, cartazes e palavras de ordem, os petroleiros denunciaram o impacto dos equacionamentos, que têm reduzido significativamente o poder de compra de aposentados e pensionistas, e cobraram uma resposta definitiva da gestão da Petrobrás e da presidência da Petros.
“Com a luta dos trabalhadores, a Petrobrás vai ter, além de um passado, um futuro para se orgulhar”, afirmou Pedro Augusto, diretor do Sindipetro Unificado e da FUP. Segundo ele, é inadmissível que a empresa mantenha um problema tão grave para quem construiu sua história enquanto segue distribuindo dividendos bilionários aos acionistas.
Durante o ato, também falaram dirigentes sindicais e participantes da Petros de diferentes regiões. Para o diretor do Sindipetro Unificado, Steve Austin, este é um momento decisivo:
“A questão dos equacionamentos da Petros tem que ser resolvida este ano. Temos que olhar para a conjuntura nacional e internacional. O ano que vem será de enfrentamento político, de defesa da democracia. Este ano é fundamental para consolidar essa luta. Se for acampamento no Rio, estaremos lá; se for caravana em Brasília, também. Assim como estivemos em todas as outras mobilizações”.

O diretor Juliano Deptula, destacou a importância da solidariedade entre gerações de petroleiros: “Temos que ser solidários, temos que estar juntos. A luta que eles fizeram foi o que construiu a Petrobrás que temos hoje. As batalhas das décadas de 1970, 80 e 90 fizeram da empresa o que ela é hoje”.
Ao final do ato, os petroleiros se reuniram em coro para enviar um recado direto à presidenta da Petrobrás, Magda Chambriard. Com punhos erguidos e vozes firmes, ecoou o grito que sintetizou o espírito de unidade e resistência: “Magda, pague o que nos deve!”
O recado foi claro: os trabalhadores e trabalhadoras não desistirão da luta e permanecerão em mobilizações contínuas até que a Petrobrás apresente uma proposta justa para encerrar de vez os PEDs que penalizam quem dedicou a vida à construção da estatal.
Fala aposentado
O Sindipetro Unificado ouviu cinco petroleiros e petroleiras aposentados que vêm enfrentando as duras consequências dos equacionamentos da Petros. Eliane Frozel, Renê Ribeiro, José Santos, “Jairzinho” Campos e Carlos Alberto dos Santos compartilharam seus relatos sobre o que chamam de um período de sofrimento e resistência, marcado por descontos que comprometem a renda e colocam em risco a dignidade de quem dedicou décadas de sua vida à construção da Petrobrás. Nos depoimentos, emergem indignação, cansaço e um profundo sentimento de injustiça — mas também a certeza de que a luta coletiva é o único caminho para virar essa página.
“Uma empresa de pessoas. Da mesma forma que hoje pessoas estão ali fazendo a gestão da companhia, nós aposentados já passamos por este momento por décadas e tínhamos a expectativa de que, ao nos aposentarmos, seríamos contemplados com aquilo que era tácito. Mas não foi assim. E, de repente, a vida passa e você está aposentado. Meu apelo não é só para os dirigentes da companhia, para que se debrucem sobre esta questão, mas também aos companheiros da ativa, para que se imaginem como aposentados”, disse Eliane Frozel.
Para “Jairzinho”, é hora de fortalecer a união entre gerações: “Acho que a ativa poderia estar dando uma força pra gente. A união é importante, ajudando nas paralisações das portarias. Acho que temos que parar nas portarias, nos terminais, nas refinarias, o que for possível, pra gente estar fazendo o embate ali. E a ativa pode estar ajudando nisso”.
O sentimento de frustração é compartilhado por José Santos, que dedicou três décadas à estatal: “Trabalhei na Petrobrás durante 30 anos e, quando entrei, assinei um documento da Petros dizendo que, quando me aposentasse, teria um salário digno para me sustentar com minha aposentadoria. Mas a verdade é que ela não cumpriu aquilo que acordou no meu primeiro dia. Os aposentados de hoje estão sofrendo muito com seus salários, sem conseguir sustentar suas famílias. Estamos completamente indignados”.
Renê, que atuou por 33 anos na companhia, reforça a sensação de desrespeito e abandono: “Eu entendo que a Petrobrás não respeita seus aposentados. Trabalhei 33 anos na Petrobrás sem perder um dia sequer de trabalho e não me sinto respeitado depois de tantos anos em que doei a minha vida a esta empresa, meu sangue a esta empresa. Eu me aposentei e me sinto deixado de lado depois de tanto esforço. E eu pensava que com a Magda, que é uma petroleira no comando da empresa, as coisas seriam mais justas, mas tenho visto que não são”.
Com mais de 38 anos dedicados à companhia, Carlos Alberto dos Santos resumiu o sentimento comum a tantos aposentados: “Trabalhei 38 anos e 9 meses e estou aposentado há um pouco mais de onze anos, e a gente se sente escanteado. Nós contribuímos para a grandeza dessa empresa ao longo das nossas carreiras profissionais e, neste momento, estamos jogados para escanteio por conta da negligência e do descaso da empresa conosco”.
Os depoimentos revelam uma categoria que, mesmo diante das perdas impostas pelos equacionamentos, mantém viva a esperança e a disposição de luta. Em cada fala, o mesmo apelo: que a Petrobrás e a Petros reconheçam a dívida moral e financeira com quem ajudou a erguer a maior empresa pública do país.














