A maior base de carregamento de caminhões do país passa a operar querosene de aviação; entretanto, seus efeitos estão limitados ao horário de funcionamento da unidade, das 6h às 19h
Por Guilherme Weimann
No início deste ano, a Transpetro – subsidiária integral da Petrobrás – finalizou a modernização da maior base de carregamento de caminhões do país, a Baguar, que integra o complexo do Terminal de Guarulhos (SP).
Com as obras, algumas baias da Baguar passam a ter capacidade de fornecer querosene de aviação (QAV), operação realizada anteriormente apenas no Aeroporto Internacional de São Paulo (Cumbica), que recebe combustíveis por um duto interligado diretamente ao Terminal de Guarulhos. A partir dessa adequação, importantes aeroportos da cidade de São Paulo, como o Campo de Marte e Congonhas, podem ser abastecidos a partir dessa base de carregamento.
Os efeitos desse aprimoramento, entretanto, ainda estão limitados. Isso porque o trânsito de caminhões nas principais vias da capital paulista é proibido de segunda à sexta-feira, das 5h às 9h e das 17h às 21h, e o horário de funcionamento da Baguar, atualmente, está fixado entre 6h e 19h.
Sistema falho
Nos últimos anos, especialmente a partir de 2015, a Transpetro – assim como todas as empresas que compõem o Sistema Petrobrás – reduziu drasticamente o seu efetivo próprio de mão de obra.
“Diversos trabalhadores foram devolvidos para a Petrobrás, outros aposentaram e houve até casos de falecimentos. Contudo, a Transpetro não demonstrou nenhuma disposição em recompor o efetivo, muito pelo contrário. A única preocupação foi cortar gastos, reduzindo contratos e salários para alcançar resultados contábeis positivos”, afirma o diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), Felipe Grubba.
Neste contexto, o Terminal de Guarulhos sofreu uma queda no número de trabalhadores, somada a uma mudança no regime de trabalho. Desde setembro de 2021, a unidade passou a operar com o sistema polidutos, com três jornadas de trabalho de 8 horas, intercaladas entre 6h e 22h (horário de funcionamento do terminal desde então).
O argumento da Transpetro para a implementação da mudança, na época, era devido ao aumento do nível de automação do terminal e a possibilidade de ser operado pelo Centro Nacional de Controle e Logística (CNCL), localizado no Rio de Janeiro (SP).
Antes disso, porém, a unidade operava 24 horas por dia, por meio do turno ininterrupto de trabalho, ou seja, com trabalhadores se revezando em três jornadas de 8 horas diárias. Essa mudança, como noticiado no ano passado pela reportagem do Sindipetro-SP, gerou uma série de efeitos negativos, tanto do ponto de vista estratégico como no dia a dia dos trabalhadores.
“Além do risco operacional, a implantação do sistema de polidutos em Guarulhos se mostrou falha em diversos aspectos, tanto que gerou um elevado número de horas extras para garantir a eficiência operacional. Isso acabou gerando um prejuízo na qualidade de vida dos trabalhadores, que passaram a ir quase todos os finais de semana para o terminal”, explica Grubba.
O Terminal de Guarulhos, como indicado pelo próprio site da Petrobrás, recebe derivados de petróleo e álcool da Refinaria de Paulínia (Replan), da Refinaria Henrique Lage (Revap), da Refinaria de Capuava (Recap) e dos terminais de Guararema, São Caetano do Sul e São Sebastião.
Solução simples
Em diálogo com o Sindipetro-SP, os trabalhadores reivindicam a recomposição do efetivo da unidade e demonstraram disposição em retornar ao regime de turno ininterrupto de trabalho, o que traria mais segurança operacional e melhor qualidade de vida aos operadores. Além disso, essa mudança possibilitaria o carregamento de QAV na madrugada.
De acordo com o diretor sindical, a Transpetro precisa consertar os erros deixados pelas últimas gestões. “A Transpetro, como todas as empresas que compõem o Sistema Petrobrás, sofreu diversas perdas desde o golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff da presidência. Esse caso específico do Terminal de Guarulhos demonstra que as medidas implementadas pelas últimas gestões foram prejudiciais à qualidade de vida dos trabalhadores ”, diz Grubba.
O sindicato está em diálogo permanente com a empresa para viabilizar o retorno imediato do regime de turno ininterrupto de trabalho na unidade.