O delirante Cassino Petrobrás

Por Rôney Rodrigues | Ilustração: Vitor Teixeira

Confira aqui o início da saga do Erval. E aqui o segundo capítulo dessa história.

Ferve o Cassino Petrobrás, agora sob nova direção bolsonarista. Helicópteros desembarcam a distinta diretoria, vestida com os mais recentes cortes Dior, Armani e Prada. Álcool, comilança e jogatina embalarão a Festinha da Firma no pós-greve.

O diretor de Investimentos da dita baiuca já queima a largada com caríssimos uísques importados, engraçando-se sorrateiramente com investidores de Wall Street. Na fila do banheiro, o de Produção & Tecnologia topa de cara uma “inovaçãozinha” proposta por agentes da CIA; o de Assuntos Corporativos, desengonçado de dar dó, baila emocionado com flashbacks da Era Nixon-Thatcher. Mas é o diretor de Finanças que parece mais aproveitar o banquete: estrategicamente sentado ao lado da cozinha, intercepta com voracidade os pobres garçons – e suas travessas cheias de torradinhas com patê de caviar esturjão-beluga e de trufa branca piemontesa. Mas rega-bofe é justificado, afinal, não é todo dia que executivos recebem uma bonificação de R$ 12,5 milhões – e milionário aumento salarial.

No Salão de Jogos, a Roleta Coronavírus é manejada por crupiês experientes como Junior Durski. “Façam suas apostas”, berra, recolhendo as fichas. “Quantos idosos vão morrer? Cinco, sete, quinze mil? Quem dá mais?”. Outros, obsessivos, concentram-se no Caça-níquel da Privatização. Já na mesa do Poker Trabalhista, blefes e apostas previsíveis: com R$ 40 bilhões no bolso, emprestado pela banca, prometem enfrentar a turbulenta pandemia, mas jogam cartas marcadas – punição a grevistas, turnos de 12 horas e incompetência para evitar a contaminação dos petroleiros.

Sentado no balcão, o presidente Roberto, outro homônimo do mandachuva da estatal petroleira, parece tenso. Passa a confraternização toda ao celular. Nem dá bola para aquele diretor escroto, já mamado de saquerinha, que sobe a gravata à testa, abre provocativamente a camisa e propõe um debochado brinde:

“Ao Erval, o petroleiro idoso que furou a greve e, agora, vai torrar todo o dinheirinho extra pra fugir das estatísticas da pandemia!”, ri com sua própria e perversa piada, seguido pelos outros. Mas é provável que Erval, se um dia fosse convidado para tal antro festivo, nem se ofenderia, afinal, como naquela anedota, quem mata o pai e a mãe não pede ao algoz misericórdia para um pobre órfão.

É madrugada e Roberto, com aquela melancolia proporcionada pelo oitavo bourbon, olha orgulhoso para seus executivos que requebram ao som de Bee Gees: ralaram para esmagar uma greve e merecem a diversão – e os milhões. Com sua imaginação siderada, temeu por um segundo: se população se inteirar dessa Festinha na Petrobrás, é bem provavelmente que todos esses pescocinhos, devidamente perfumados com Paco Rabanne e Coco Chanel, sejam guilhotinados – ainda mais quando presidentes podem cair por sandices políticas e psiquiátricas.

Mas ele não quer cortar o barato de ninguém, ao menos hoje não seria o chato que só pensa em trabalho e dinheiro. Após investidas alcoólicas dos demais, Roberto cede ao dale a tu cuerpo alegria Macarena e entra no trenzinho da firma.

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