Primeira mulher negra a trabalhar na Replan, a campineira Iraci Genésio Caetano conta que foi durante seus anos de petroleira que descobriu sua verdadeira vocação profissional. Ela entrou na refinaria em 1977, cinco após a inauguração da unidade em Paulínia, na função de auxiliar administrativa do serviço social. A experiência de acompanhar de perto as dificuldades de muitos trabalhadores e poder ajudá-los cativou a petroleira. Ela acabou se formando em serviço social e até hoje, 13 anos depois da aposentadoria, continua exercendo a profi ssão de assistente social, trabalhando na prevenção da dependência química. Poucos anos depois de entrar na Replan, Iraci decidiu que iria cursar a faculdade de serviço social. “Percebi que naquele tempo havia uma diferenciação no tratamento do trabalhador que tinha ensino superior”, lembra ela. A petroleira já estava com seu diploma em mãos quando a Petrobrás abriu concurso para a vaga de assistente social. Iraci foi aprovada e passou a desempenhar a função.
No serviço social, a petroleira transitava por todas as classes, assessorando a alta gestão e os operadores da refinaria. “Sempre fui muito respeitada em todos os ambientes e, mesmo com o histórico de participações em greves e discussões dos direitos da categoria, eu fazia o que achava justo, sempre alinhada à luta dos trabalhadores”, ressalta a trabalhadora, que também foi integrante da Cipa.
Petroleira e negra, Iraci recorda-se que demorou para ela perceber que era minoria na Replan. “Como mulher negra custei a me conscientizar que escapei de uma bolha. Às vezes considerava até como meritocracia e
acho que isso foi uma falha minha. Demorou para eu me dar conta de que eu era a única negra na refi naria e, até eu me aposentar, não tiveram outras”, declara a petroleira, que garante nunca ter sofrido nenhum tipo de discriminação na empresa.
Iraci dedicou 30 anos de sua vida à Petrobrás e um dos momentos mais marcantes, segundo ela, foi sua demissão em 1983, por ter participado da greve histórica da categoria, em plena ditadura militar. Ela foi reintegrada dois anos depois e, como “castigo”, a empresa a transferiu do setor de Serviço Social para o de Suprimento. “Foi a melhor punição da minha vida, uma experiência maravilhosa, na qual aprendi uma nova atividade e passei a valorizar um trabalho que eu considerava de menor importância. Além disso, desmistifi
cou-se a disposição de luta dos trabalhadores do Suprimento”.
Educar e conscientizar Na Petrobrás, diz Iraci, é realizado um trabalho de conscientização e instrumentalização para a identificação de possíveis alterações nos trabalhadores, que possam indicar problemas com dependência.
Trabalhar com as pessoas que estão com essas dificuldades e que necessitam da reinserção no meio social foi o que seduziu Iraci.
“O serviço educativo e de conscientização para prevenção de drogas foi o que mais me chamou a atenção, trabalho que realizo até hoje. Devo à Petrobrás tudo que aprendi e desenvolvi”, declara ela, que comanda, hoje, uma clínica de prevenção ao uso de álcool e drogas, em Campinas.
Por Alessandra Campos e Andreza de Oliveira