Venda das Fafens impacta no desenvolvimento do país e irá encarecer alimentos

Em 2014, investir nas Fafens era um ótimo negócio para o país e a Petrobrás. Em 2019, vender as Fafens é um modo de pagar mais dividendos para os acionistas

 

Por Norian Segatto

“A produção de fertilizantes nitrogenados se insere na cadeia de valor do gás natural, sendo uma alternativa economicamente atrativa para sua monetização. A demanda do mercado brasileiro de fertilizantes é maior que a produção nacional. Além disso, o segmento encontra-se em expansão tanto no Brasil quanto no mundo. Com o crescimento populacional e o aumento de renda, espera-se aumento no consumo de alimentos, principalmente de proteína animal, que requer mais grãos para sua produção e, por consequência, maior uso de fertilizantes. No Brasil, entre 2003 e 2012, o consumo de fertilizantes passou de 22,8 milhões de toneladas para 29,6 milhões, o que configurou crescimento de 30% no período. De acordo com a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 2010 e 2020, somente no Brasil, a produção de alimentos crescerá 40%.”

O trecho que você acabou de ler faz parte do comunicado “Fatos e Dados”, de 2 de janeiro de 2014 (http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/entenda-por-que-investimos-em-fertilizantes.htm). O que mudou nesses cinco anos, o cenário brasileiro e mundial ou a visão estratégica Petrobrás? Por que, em 2014, investir em fábrica de fertilizantes nitrogenadas era “uma alternativa economicamente atrativa” e agora a companhia tenta se desfazer das Fafens?

No dia 13 de agosto o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, participou de audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado para falar sobre a privatização de refinarias e das fábricas de fertilizantes contidas no plano de desinvestimentos. Segundo Castello Branco, o protocolo de intenções com a empresa russa Acron, maior produtora de fertilizantes do mundo, será assinado até o final de agosto.

Em documento de março deste ano, o Dieese analisa que “os investimentos da Petrobrás têm sido fundamentais para o processo de desenvolvimento do país. Até o ano de 2014, a empresa era responsável por 13% dos investimentos produtivos no Brasil e contribuía com 6% do Produto Interno Bruto-PIB. O atual cenário de desaquecimento e retração econômica pode ser creditado, em parte, à desaceleração dos investimentos da Petrobrás. O investimento da empresa em fontes alternativas de energia e a participação estratégica na produção de fertilizantes vinham sendo absolutamente importantes na consolidação de um modelo de crescimento econômico com desenvolvimento e autonomia”.

Alimentos ficarão mais caros

As fábricas de fertilizantes continuam a ser um bom negócio, tanto que a maior empresa do planeta nesse ramo está interessada em adquirir o que a Petrobrás está jogando fora. E por que a gestão da empresa faria isso? A resposta tem duas vertentes: a primeira, garantir o máximo retorno possível de dividendos para os acionistas em curto prazo, ou seja, pegar a grana da venda, injetar no balanço e pagar os acionistas, não se importando se isso irá afetar o projeto de desenvolvimento do país ou causar o aumento no preço do alimento.

Ainda segundo o relatório do Dieese “podemos perceber que a saída da Petrobrás do setor, através da venda das unidades da Fafen, pode ser um fator a mais para a elevação do custo de produção dos fertilizantes nitrogenados, uma vez que a empresa que comprar esses ativos (Fafens) não terá o mesmo acesso à matéria-prima. A Petrobrás, sem dúvida, possui uma enorme vantagem comparativa na produção de fertilizantes nitrogenados, por ser a produtora da matéria-prima principal para a produção dos mesmos, que é o gás natural.

A decisão de pagar mais dividendos a “meia dúzia” de acionistas será sentida no bolso de toda a população na hora de ir ao supermercado.

 

 

 

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