Por Norian Segatto
“Se o Zezinho tem uma casa que vale R$ 5 mil e o Joãozinho, uma que vale R$ 100 mil e cada um tem uma dívida de R$ 5 mil, isso significa que o Zezinho está 100% endividado e o Joãozinho só 5%.” (!!). Que a atual extrema direita que está no comando do país (e, por extensão, da Petrobrás) é tosca todos já sabíamos; a novidade é que passam a tratar a qualificada mão de obra petroleira, internacionalmente respeitada por sua capacidade técnica, como crianças pré-alfabetizadas, que precisam fazer conta de “mais” no dedo.
Esse foi o sentimento de diversos petroleiros/as ao término da patética transmissão nacional feita pela direção da empresa para apresentar o novo foco da Petrobrás. Se metáforas como a do Zezinho/Joãozinho ou comparações com a dívida do McDonald´s soam ridículas, o conteúdo subjacente das propostas é profundamente preocupante.
O plano estratégico 2020/24 afirma que o foco da empresa será em óleo e gás, mas deixa em aberto uma série de questões, entre elas: 1) como ficam as refinarias? (o plano diz genericamente “atuar nas atividades de refino… com foco nas operações do Sudeste”); 2) o plano fala em “otimizar o portfólio termoelétrico”, “viabilizar o BioQav” e “matrizes sustentáveis”, mas não explicita como vai fazer isso, se diminui investimentos em energias renováveis e privatiza termelétricas e outras unidades estratégicas.
O que se denota da apresentação é uma estratégia consciente da alta gestão de transformar a Petrobrás em uma empresa de terceiro escalão na geopolítica mundial de energia, subordinada a interesses estrangeiros e sem capacidade de intervir nos rumos do desenvolvimento do país. Ou, como foi enfatizado durante a apresentação, “uma mudança de cultura” em que a solidariedade dá lugar ao cada um por si.
Essa é a matriz ideológica que permeia todo o atual governo; na agricultura, transformar o Brasil em um fornecedor de commodities à custa de empregos semi-escravos e da degradação estrutural do meio ambiente; nas cidades, precarização completa do trabalho; incentivos ilimitados para o capital financista especulativos (a reforma da Previdência é um desses “incentivos” que fazem a alegria dos banqueiros) e privatização de todas as empresas estratégicas do país; na área de energia, entrega das reservas do pré-sal (próximo megaleilão, marcado para novembro, pode significar a cartada final desse entreguismo) e criação de um ambiente propício para a completa privatização da Petrobrás.
O que se viu na tal apresentação do plano estratégico é cortina de fumaça, o que não foi dito é o que importa para a categoria petroleira, para a sociedade e para o Brasil. “Transformar digitalmente a Petrobrás, entregando soluções aos desafios”… sabemos muito bem o que a alta gestão entende por “entregar”, mas não vão conseguir, do lado de cá tem um povo bom de briga e que não vai deixar que entreguem a nossa grande companhia, acabem com nossos direitos, nossos empregos e com o futuro do país.