
Por Norian Segatto
Em abril de 2018, após meses se preparando, conversando com familiares e levantando “possíveis cenários adversos”, a engenheira de telecomunicações, Érica Alves de Oliveira, passou por um processo de transição de gênero, assumindo definitivamente sua identidade feminina. Segundo ela, a Petrobrás deu todo o apoio necessário, constituindo um grupo multidisciplinar, que envolveu o RH (hoje Gestão de Pessoas), o Departamento Jurídico e apoio psicológico da Área de Saúde. “Me preparei por meses para isso, conversei com cada um de meus colegas de trabalho mais próximos pessoalmente, pedindo sempre bastante discrição e tive retorno muito positivo. Recebi apoio e, principalmente, o respeito dos colegas”, conta a simpática engenheira lotada, até a semana passada no Edisp. Com a desativação da sede da Avenida Paulista, Érica será transferida para Santos.
Na Petrobrás desde 2010, formada em engenharia elétrica e eletrônica pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia), com mestrado em engenharia de telecomunicações, na área de sistemas de navegação global por satélite, pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), Érica empresta esse respeitável currículo acadêmico e parte de seu tempo livre para trabalhar voluntariamente no Projeto Di Alma (dialma.com.br), uma ONG que oferece refeições, roupas, itens de higiene pessoal e, principalmente, esperança e conforto, para moradores em situação de rua. “Comecei a trabalhar com essa grupo há dois anos e meio e tem sido muito gratificante, e como sou formada em exatas acabei ficando responsável pelo controle das finanças”.

Érica explica que uma vez por mês a ONG realiza uma campanha para distribuição de alimentos, em algum lugar previamente escolhido pelas organizadoras em São Paulo. “Cada voluntário mora em um lugar da cidade e isso permite que possamos mapear dentro de nossa rotina diária de deslocamentos diferentes pontos com possíveis aglomerações de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Tais locais podem se tornar pontos de distribuição. Quando se trabalha com isso, o olhar fica mais atento e é assustador como tem crescido o número de pessoas nessas condições”.
É comum encontrar muitas pessoas trans, entre moradores de rua, expulsas de casa pelas próprias famílias e que enfrentam, pela condição de pobreza e de identidade de gênero, ainda mais preconceito da sociedade. Érica conta que em uma dessas ações, uma das moradoras olhou para ela, e disse: nós somos iguais. “Me emocionei muito ouvindo ela falar isso, se reconhecendo”.
Hoje, aos 37 anos, ela provavelmente é a primeira petroleira (pelo menos de nossa base) a fazer a transição de gênero estando empregada. “O apoio da Petrobrás foi muito importante, tirei 20 dias de férias para fazer um procedimento plástico e quando voltei à empresa já havia um procedimento para a troca de crachá e email para meu nome social (hoje já retificado formalmente), além de orientações corporativas quanto ao convívio em áreas comuns. Hoje temos inclusive um Código de Ética e Guia de Conduta Petrobrás que asseguram as condições de trabalho e relacionamento corporativo, promovendo a diversidade e combatendo todas as formas de preconceito, independentemente da identidade de gênero ou orientação sexual. Hoje me sinto bastante realizada e plena”.