Documento deixa claro que a atual gestão da estatal quer apenas desfazer de seus ativos, ignorando o grande potencial industrial da empresa
Em paralelo à venda da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), localizada na cidade de Araucária, a Petrobrás divulgou teaser, em parceria com o Banco Bradesco, mostrando as principais qualidades da empresa para os possíveis compradores.
Sob justificativas de que a unidade estava trazendo prejuízos crescentes, a estatal colocou a Fafen-PR à venda em janeiro deste ano, cortando assim todo o passivo da unidade, o que culminou na demissão de mais de mil trabalhadores.
Diretor de comunicação da FUP e do Sindiquímica-PR, Gerson Castellano explica que a Petrobrás, ao divulgar um teaser de venda da Fafen-PR recheado de qualidades que a companhia já havia julgado como problemas da unidade, é no mínimo incoerente.
Com essa cartilha, toda a retórica de que a privatização da fábrica aconteceu porque a unidade não era interessante e nem dava lucros cai por terra, porque no anúncio a Petrobrás lista as vantagens que sempre mostramos.
O dirigente também atentou para a relação que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) teve com a Petrobrás no momento de privatização da unidade, o que acabou favorecendo o processo. “Tínhamos essa visão de que as demissões serviam para limpar o passivo trabalhista e deixar a fábrica nova para o comprador, e o TST, ao fazer a proposta, de certa forma ajudou a Petrobrás a executar essa manobra para facilitar a venda”, comentou.
Privatização de longa data
A Fafen-PR já havia sido privatizada ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, porém, foi novamente adquirida como subsidiária da Petrobrás em 2007, pelo então presidente Lula (PT).
Assessor jurídico da FUP que atuou nas negociações do Sindiquímica-PR com a Petrobrás, o advogado Adilson Siqueira alertou que a empresa passa por um processo de desindustrialização desde meados de 2016, após o golpe que retirou Dilma Rousseff (PT) da presidência do Brasil.
Entre os anos de 2018 e 2019, a Petrobrás tentou vender novamente a Fafen-PR, mas sem sucesso, por conta da crise no mercado. Então decidiu zerar o passivo trabalhista da fábrica para colocá-la novamente à venda, assim atrairia mais investidores pois estes não teriam de lidar com conflitos trabalhistas nem cobrança de ações.
Além de toda a categoria petroleira ter se mobilizado em uma greve histórica no início deste ano, em solidariedade aos demitidos da Fafen-PR, houve uma incansável tentativa de negociação com a Petrobrás para a não exoneração dos trabalhadores. “Teve até a intervenção de alguns deputados e governadores, mas é muito difícil o diálogo com um governo fascista”, lamentou Siqueira.