Sindipetro Unificado inicia Seminário de Planejamento em Cajamar (SP)

Atividade teve início nesta sexta-feira (5) e conta com programação até o domingo (7); participam petroleiros de todas as regionais, além de convidados e facilitadores

Por Guilherme Weimann | Fotos: Marcelo Aguilar

Começou na tarde desta sexta-feira (5) o Seminário de Planejamento da Direção do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul (Sindipetro Unificado). O encontro reúne cerca de 40 sindicalistas de todas as regionais no Instituto Cajamar, histórica escola de formação sindical reativada no ano passado.

A atividade, realizada geralmente a cada dois anos, tem o objetivo de alinhar os objetivos, os desafios e as linhas de atuação do sindicato, tanto do ponto de vista organizativo, como também do ponto de vista político.

“Vivemos uma conjuntura muito diferente de quando realizamos nosso último seminário, ainda bem. Na época, ainda vivíamos sob o governo Bolsonaro e sob diversas incertezas e ameaças, inclusive em relação à própria liberdade sindical”, afirmou na abertura do evento a coordenadora geral do Sindipetro Unificado, Cibele Vieira.

Por isso, a programação contará com diversos painéis de estudos e análises e prevê a participação de convidados externos. O primeiro deles, realizado no início da tarde desta sexta-feira (5), discutiu o “Papel e Desafios do Sindicalismo Brasileiro”.

Histórico

Hélio Costa fez um percurso pela história do sindicalismo no mundo

No início da produção industrial, de acordo com o pesquisador, não havia nenhuma regulamentação em relação ao trabalho, que era permeado por jornadas extenuantes, sem qualquer preocupação com a saúde e segurança dos operários – incluídas as crianças. Mas, se num primeiro momento o sindicalismo incide justamente sobre a busca por condições mais dignas de trabalho, muito rapidamente – do ponto de vista temporal – ele migra para reivindicações mais amplas: “Os sindicatos passam a pressionar por direitos civis e políticos”.

Nesse contexto, na chamada Segunda Revolução Industrial, os sindicatos europeus criam seus próprios partidos, numa aposta explícita na via institucional como arena de mudança política: “Os trabalhadores deixam de votar no burguês mais bonzinho e começam a criar seus próprios partidos. Vários partidos sociais democratas e socialistas começam a ser criados na Europa. A ideia de que os trabalhadores poderiam tomar o poder pela via institucional começa a ganhar força, porque a classe trabalhadora se torna a maioria numericamente”.

A primeira mesa tratou sobre os a história e os desafios do sindicalismo

Posteriormente, com diversas vitórias e derrotas dessa estratégia por parte dos trabalhadores, ocorre a Revolução Russa, que marca não apenas o movimento trabalhista, mas também faz com que a democracia liberal incorpore diversos direitos gestados pelo comunismo. O sindicalismo, paralelamente, também contribuiu nesse sentido: “Os sindicatos são órgãos fundamentais para civilizar o capitalismo. A democracia só tem o formato que conhecemos atualmente devido ao movimento sindical. O sindicalismo evidenciou o caráter social da democracia. Porque, para a burguesia, a democracia seria apenas a alternância de governo, sem mudanças do ponto de vista social”.

No Brasil, o pesquisador aponta a ascensão do chamado Novo Sindicalismo após o chamado “Milagre Econômico”, período de alto crescimento econômico entre o fim da década de 1960 e meados da década de 1970: “O milagre econômico favoreceu o trabalhador mais qualificado, como os engenheiros. Já os trabalhadores de chão de fábrica bateram recorde de horas-extras e o Brasil foi campeão no número de acidentes de trabalho”.

No período posterior, tanto o sindicalismo como a esquerda de uma maneira geral passam a enfrentar os pressupostos do neoliberalismo: “Friederich Hayek [um dos cânones do neoliberalismo] apoiou a ditadura chilena. Assim como o Paulo Guedes apoiou e participou do governo Bolsonaro. Para eles, é melhor ter um governo autoritário do ponto de vista político e social do que um governo que intervenha na economia por meio do Estado, como o governo Lula”, afirmou Costa, que completou: “O Estado, no neoliberalismo, deve estar a serviço do mercado. O Estado deve servir ao mercado. A ideia do Estado mínimo é um Estado mínimo para a sociedade, mas forte para o mercado”.

Conjuntura atual

Diante disso, surgem diversos desafios para o sindicalismo atual. E foi justamente sobre eles que a vice-presidenta do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), Luba Melo: “A democracia liberal enfrenta uma crise multifacetada, que se manifesta em golpes de Estado de diferentes formas e na ascensão de líderes de extrema direita eleitos. Esse contexto se traduz em fragilização das estruturas políticas em geral, incluindo os sindicatos”.

Luba Melo analisou os desafios atuais do sindicalismo brasileiro

A sindicalista esmiuçou essa tendência para o cenário brasileiro: “A economia brasileira aprofunda um processo de reprimazarização, com fortalecimento notável do agronegócio e da indústria extrativa, ao passo que a indústria de transformação sofre enfraquecimento progressivo e o setor de serviços passa por intensa transformação, sem a adoção de qualquer tipo de política pública”.

Nesse contexto, Melo apontou que o movimento sindical se coloca como um elemento crucial para a preservação da democracia e dos direitos dos trabalhadores. Justamente por isso, sofreu diversos reveses nos últimos anos: “O movimento sindical enfrentou um processo de enfraquecimento impulsionado por mudanças na organização do trabalho e da produção, novas modalidades de contratação, precarização e terceirizações, entre outros fatores que fragmentam suas bases ou limitam a representatividade das entidades sindicais. Além disso, sofreu ataques diretos à sua sustentabilidade financeira, como os instituídos pela Reforma Trabalhista de 2017”.

Diante disso, de acordo com a sindicalista, “a representatividade do sindicato como sujeito coletivo, que mobiliza e defende os interesse dos trabalhadores, está sendo questionada, disputando a representatividade com outras formas de organização”.

Por isso, os sindicatos precisam realizar um grande esforço para renovar e formar novos quadros, além de se inserir nas novas linguagens comunicacionais surgidas nos últimos anos: “É preciso entrar de uma vez na disputa desse novo cenário da comunicação”, finalizou Luba Melo.

Seminário vai até domingo e tem como objetivo alinhar os desafios e as linhas de atuação do sindicato

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