Dose dupla do SindiPapo aborda os principais desafios discutidos no congresso dos petroleiros e os obstáculos do Brasil na atual conjuntura geopolítica
Por Andreza Oliveira
Na última sexta-feira (26), foi ao ar o primeiro SindiPapo duplo. Com duas horas de duração, a 12ª edição da live produzida pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado – SP abordou temas como Petrobrás, petroleiros e os desafios da campanha reivindicatória, seguido de um bate-papo sobre geopolítica e o impacto da pandemia no cenário internacional.
A primeira rodada permeou assuntos relacionados às pautas de reivindicações discutidas e elaboradas durante o congresso online organizado conjuntamente entre os sindicatos dos petroleiros de São Paulo, Pernambuco e Paraíba. O debate contou com a participação de Juliano Deptula, coordenador do Sindipetro Unificado-SP, Rogério Almeida, coordenador do Sindipetro-PE/PB, e Deyvid Bacelar, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Pela primeira vez, o congresso aconteceu inteiramente por meio digital, o que, na visão de Deptula, foi um grande desafio, visto que a categoria petroleira está acostumada com os debates presenciais. “Fazer essa conversa à distância é difícil. Apesar da facilidade em unir um maior número de pessoas, perde-se muito na questão da relação pessoal”, afirmou, lembrando que, apesar de tudo, os petroleiros já passaram por dificuldades maiores e souberam se sair bem.
O congresso unificado
O surgimento de um congresso unitário entre São Paulo, Pernambuco e Paraíba nasceu a partir dos laços que a pandemia trouxe e, de acordo com Rogério Almeida, principalmente por conta da atuação do Sindipetro Unificado-SP nas redes. “A experiência do congresso digital está sendo ótima e está funcionando como um laboratório para o Confup [Congresso Nacional da Federação Única dos Petroleiros] que acontece no próximo mês”, anunciou o dirigente.
No mesmo sentido, Deptula afirmou que a unificação do congresso é importante para que os petroleiros entendam as diferentes realidades tanto do Nordeste, quanto do Sudeste.
Em relação aos debates, o dirigente lembrou que dentre os principais assuntos discutidos estão as políticas de privatização e as dificuldades que permeiam o Acordo Coletivo, principalmente em um ano com gestores locais das refinarias colocando medo na categoria. “Hoje, além destas dificuldades, ainda temos a covid-19, mas não tenho dúvidas de que nossa categoria terá condições de criar alternativas para enfrentar essa luta pelo ACT”, concluiu o coordenador do Sindipetro Unificado-SP.
Para Deyvid Bacelar, apesar do congresso representar uma expectativa de melhora nas negociações coletivas para a categoria petroleira, as dificuldades em acordos com a Petrobrás estão crescentes desde 2016. “Agora, com este governo fascista, racista e ultra neoliberal, o desrespeito à mesa de negociações e diálogos sociais se torna mais evidente”, declara o petroleiro, considerando as influências negativas que a gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) impõe dentro da Petrobrás.
Bacelar ainda comentou que os sindicatos da FUP pretendem se organizar a partir destes congressos estaduais e regionais. “Os sindipetros estão em busca da garantia de nossos direitos não só a partir da negociação coletiva de trabalho, mas também em defesa dos empregos, soberania nacional e da democracia, que está em vertigem”, finalizou o petroleiro, fazendo alusão ao documentário de Petra Costa.
Geopolítica e conjuntura brasileira
Na sequência do bate-papo, participaram o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e o professor de economia política internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), José Fiori.
O ex-ministro iniciou a conversa citando a agenda de desconstrução do Estado por parte do atual governo, que retirou direitos da população por meio das reformas trabalhista e previdenciária e diversas privatizações que vem sendo realizadas. “Os norte-americanos não privatizariam, em hipótese alguma, a Nasa [Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço], que corresponde à Petrobrás dos Estados Unidos”, afirmou Vannuchi ao citar a submissão da presidência atual aos moldes de Donald Trump.
A partir de um panorama geral da geopolítica mundial, Luiz Fiori tem uma visão, segundo ele, realista sobre os impactos da crise por conta da pandemia do novo coronavírus e alerta para a falta de preparo de alguns países, como o Brasil, em lidar com a doença. “Muitos governos asiáticos controlaram a crise com modelos e técnicas parecidas e se saíram bem melhor que o ocidente, como os EUA e o Brasil, que são governados pela extrema direita”, argumentou o professor, afirmando que, no Brasil, não se teve nenhuma política eficaz e isso, como consequência, culminará em um impacto econômico e social maior para a população brasileira.
Contudo, Paulo Vannuchi vê o momento como, de certa forma, animador, por conta das deserções de pessoas próximas ao governo de Jair Bolsonaro. Mas ele garante que ter somente essa visão é algo perigoso. “É possível que o governo Bolsonaro, ao perder forças, possa promover loucuras que, apesar de terem poucas chances em resultar numa nova ditadura como a de 64, podem gerar ataques que durem semanas ou meses”, alegou o ex-ministro ao considerar um contexto nacional de pós-pandemia.
Ainda, para Paulo Vannuchi, um dos próximos desafios políticos que se tende a enfrentar no Brasil são as eleições municipais, que, de acordo com o ex-ministro, têm a chance de realocar as peças do tabuleiro para a consolidação ou não do processo de impeachment de Bolsonaro, que já somam quase 40 pedidos na Câmara dos Deputados. “Realizar o impeachment para terminar trocando Bolsonaro por Mourão acaba oferecendo a chance de repaginar o governo”, concluiu Vannuchi ao demonstrar que a população deve se unir de maneira organizada para vencer essa disputa.
Para José Fiori, neste momento o Brasil não tem disponibilidade de capitais a ponto de gerar interesse internacional, sendo, de certa forma, um “buraco” cavado por um governo instável e desequilibrado. Mas, ainda assim, não descarta uma reação de repulsa por parte da população. “É possível que se tenha manifestações crescentes, provocadas pela situação social advinda da crise econômica”, finalizou o docente.
Confira o bate-papo completo: