A politização das torcidas organizadas abre possibilidades de debates políticos para as mais variadas classes sociais
Por Andreza Oliveira
Foi ao ar na última sexta-feira (19) mais um SindiPapo, série de lives produzidas pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) desde o início da pandemia e que desta vez discutiu as manifestações antifascismo realizadas por torcidas organizadas de futebol.
Com mediação do jornalista Luiz Carvalho, a conversa contou com a participação de Chico Malfitani, publicitário e um dos fundadores da Gaviões da Fiel, Júlio Turra, professor e assessor político da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e Jairo Batista, coordenador do Sindipetro Bahia.
Num cenário em que o Brasil se encontra como o epicentro da crise epidemiológica do novo coronavírus e com a instabilidade política ganhando força, torcidas organizadas vêm se estruturando em manifestações pela democracia e contra o fascismo. A Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians, foi uma das primeiras a aderir e fomentar essa luta e a ida às ruas em contraponto às manifestações pró governo que já vinham acontecendo.
Para Chico Malfitani, politizar e unir as torcidas é algo essencial. “A democracia é a nossa bandeira. Decidimos ir às ruas contra as manifestações que são pró-governo porque precisávamos fazer alguma coisa, assim acendemos um fósforo para acordar os 70% que não aprovam essa gestão”, reiterou o publicitário, para quem a rivalidade das torcidas é um problema muito pequeno se comparado à crise atual.
Para o sindicalista Jairo Batista, o futebol proporciona a abertura para o debate político e permite que as torcidas organizadas, reflexo do povo que perde lugar nos estádios diante da elitização do esporte, comecem a se movimentar. “Cada vez mais, não só as torcidas organizadas, mas qualquer outro tipo de entidade cooperativa, devem fazer parte das lutas sociais, principalmente num momento como este em que temos um governo racista e com várias características que remetem ao fascismo”, complementa o coordenador do Sindipetro-BA.
Já que o bloqueio foi rompido, de acordo com Júlio Turra, as torcidas não devem abandonar as ruas enquanto espaço de manifestação política e deixá-las nas mãos de apoiadores com tendências fascistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Espero que o movimento de luta seja crescente, é a única saída positiva para o povo brasileiro”.
Repressões em campo
Comumente, as torcidas organizadas sofrem com a repressão da polícia militar, o que, para Malfitani, é reflexo de um problema estrutural muito além do futebol. “A polícia e a mídia nos tratam como marginais e inimigos e dentro dos estádios quem nos espera é a tropa de choque. Isso acontece porque a polícia militar foi estruturada na época da ditadura”, completa o publicitário.
Com um histórico de ex-policial militar, Jairo Batista afirma que a forma de atuação da PM tem muita relação com o racismo. “A polícia sempre foi utilizada para manter privilégios, então muitas vezes ela age motivada pela cor da pele e condição financeira”, finaliza o petroleiro.
Nacionalismo entreguista
No período de pandemia, as medidas de isolamento sugeridas pela Organização Mundial da Saúde como a forma mais eficaz de se controlar a propagação do novo coronavírus não vem atingindo os índices esperados no Brasil. Para Júlio Turra, isso facilita a exploração da classe trabalhadora. “Temos um confinamento meia boca que está sendo aproveitado pelos patrões para que salários e empregos sejam liquidados, facilitando assim a destruição das liberdades democráticas e dos direitos dos trabalhadores”, definiu.
Paralelo a isso, tem-se notado a uberização do mercado de trabalho formal, estabelecendo relações empregatícias com menos direitos e garantias para o trabalhador, como observou Malfitani. Para além da resistência antifascista, a união em torno da defesa de patrimônios nacionais, como a Petrobrás, também podem ser uma pauta comum de luta
“Defender a soberania nacional nos interessa porque só um país autônomo é capaz de garantir um futuro para a sua população. Não podemos restringir o amanhã dos jovens ao mercado informal de trabalho”, finalizou.
Para o petroleiro Jairo Batista a atual gestão da companhia sofre muita influência do modelo autoritário do governo e procura sempre atender aos interesses dos privatistas. “A presidência da estatal busca o tempo todo imprimir uma narrativa que busca enganar, iludir e dificultar a compreensão dos trabalhadores, evitando também o diálogo com as entidades sindicais”, definiu.
Confira abaixo o bate-papo completo: