Política de preços da Petrobrás engorda bolso dos acionistas e penaliza população

Com a insistência do governo Bolsonaro em manter o preço de paridade de importação, especialista indica que haverá uma explosão inflacionária no país

De acordo com economista, política de preços da Petrobrás tem se mostrado prejudicial (Foto: Marcelo Casall/Agência Brasil)

Por Andreza de Oliveira | Edição: Guilherme Weimann

A partir desta sexta-feira (11), os derivados passam a ser vendidos mais caros nas refinarias da Petrobrás. Após 52 dias, os reajustes atingem a gasolina (18,8%) e o diesel (24,9%). A estatal também aumentou, após 152 dias, o preço do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), mais conhecido como gás de cozinha (16,1%).

A alta dos combustíveis está relacionada com o preço de paridade de importação (PPI), que desde 2016 deixa o Brasil mais vulnerável às disputas geopolíticas – incluindo, neste momento, o boicote dos países aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ao petróleo russo.

Com os reajustes, a empresa reduziu a defasagem em relação ao mercado internacional, que já estava próxima dos 50%, de acordo com analistas.

Leia mais: Aumento de preços e privatização: como o lucro anual da Petrobrás superou os R$ 100 bi

Segundo o economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto, a estatal, apesar de não ter abandonado sua política de preços, estava represando parte dos repasses nos últimos meses.

“A Petrobrás continua mantendo o PPI, mas não de forma tão automática. Se ela adota essa política integralmente, obtém superlucros. Com o PPI parcial, também [obtém lucros], mas em menor escala, o que difere é a maneira como o consumidor final é atingido”, explica.

Lucro para acionistas

No último ano, os lucros da Petrobrás foram de R$ 106,6 bilhões, sendo R$ 101,4 bilhões destinados como dividendos aos acionistas – valor quase três vezes maior, por exemplo, do que o orçamento anual do governo federal destinado ao Bolsa Família, que é de R$ 35 bilhões.

“Os acionistas lutam para manter seus interesses e lucros, por isso que toda vez que reclamam da política de preços da Petrobras, os acionistas e o mercado torcem o nariz”, opina o pesquisador.

Leia também: Como desmonte da Petrobrás torna o Brasil vulnerável aos impactos da guerra na Ucrânia

O pesquisador, que também é vice-diretor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também critica os repasses bilionários de dividendos em detrimento dos investimentos na própria companhia. “Ao invés de utilizar esse lucro recorde para investir e ampliar a capacidade de refino, a Petrobrás detém reservou apenas R$ 8 bilhões no último ano”.

Explosão inflacionária

De acordo com o professor, o PPI já se mostrou insustentável e prejudicial a longo prazo. “Tem que parar de subir e repassar preços nesse momento, porque o Brasil já tem uma inflação alta, então aqui já acaba subindo o preço dos derivados, que afetam os custos de produção, de transporte, e rebate em todos os preços, não só do automóvel e da gasolina, tem um efeito em cascata em toda economia”, afirma.

Ao redor do mundo, diversos países têm realizado subsídios e cortes de impostos para conter a alta dos preços, além de terem criado instrumentos para a segurança energética. “Nesse momento, a questão é que esse preço elevado no cenário internacional tende a gerar aumentos de preços generalizados, com explosão inflacionária, se não for feito nada”, afirma Costa Pinto.

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