Atos foram marcados por união entre trabalhadores da ativa e aposentados, que atualmente sofrem com os descontos abusivos da Petros
Nesta quarta-feira (24), o Dia Nacional dos Aposentados foi marcado pela categoria petroleira com atos nacionais contra os equacionamentos da Petros. Nas bases do Sindipetro Unificado, petroleiros da ativa e aposentados se reuniram na Refinaria de Capuava (Recap), em Mauá (SP), na Refinaria de Paulínia (Replan), em Paulínia (SP), e no Terminal da Transpetro de Senador Canedo (GO). Os atos tiveram como objetivo principal cobrar soluções para os equacionamentos, os descontos abusivos que têm impactado negativamente a vida dos aposentados.
Em Paulínia, a coordenadora do Sindipetro Unificado e diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira, lembrou a importância dos aposentados no processo histórico da Petrobrás, e nas lutas contra as privatizações, contra o desmantelamento da empresa e contra a ascensão da extrema-direita. A sindicalista também enfatizou a necessidade de transformar o Dia dos Aposentados em uma data de luta, buscando envolver ativamente os trabalhadores da ativa nesse desafio coletivo: “Não dá para deixar as pessoas que construíram essa empresa no passado, recebendo contracheques praticamente zerados atualmente”.
A coordenadora do Sindipetro Unificado também chamou a atenção para a responsabilidade da Petrobrás: “Tivemos reuniões do fórum das entidades em torno da Petros e agora é uma questão da Petrobrás assumir a sua responsabilidade no plano [Petros 1]. Para além da questão da parte paritária, tivemos uma série de ações judiciais em que a Petrobrás não colocou a parcela dela nessas ações”.
O ex-presidente do Sindipetro Unificado e ex-conselheiro eleito da Petros, Wilson Santarosa, trouxe à tona o histórico de negligência da Petrobrás em contribuir com a Petros até 1983. Atualmente aposentado, Santarosa destacou os impactos para os aposentados, que estão pagando os chamados PED’s (planos de equacionamento de déficits), diminuindo suas aposentadorias, que somados aos descontos da AMS, segundo ele, estão levando alguns aposentados a situações extremas: “Entre 1970 e 1983, a Petrobrás não colou um vintém sequer na Petros. Hoje, tem gente em vias de cometer suicídio pois não tem dinheiro para pagar a casa ou para comprar comida. Tem aposentado vivendo de favor de familiares, pois não está recebendo nenhum dinheiro”.
Santarosa também enfatizou o discurso de que essa luta precisa ser de toda a categoria e alertou os trabalhadores da ativa que, segundo ele, também estão sob o risco de enfrentar o mesmo problema: “A discussão que queremos fazer com vocês é a sensibilização de sermos um coletivo e não cada um por si, vocês [trabalhadores da ativa] também podem ter esse problema no futuro”.
Silvio José Marques, petroleiro aposentado e líder da histórica greve de 1995, ressaltou a importância da Petros como parte integrante da identidade dos petroleiros. Ele também destacou que os problemas atuais não são exclusivos dos aposentados: “Quem causou esse déficit dentro da Petros? Não é o trabalhador! Eu paguei! Vocês estão pagando! Agora, boa parte do meu salário vai para o equacionamento. E quem é o responsável por isso? Quem causou esse déficit dentro da Petros. Então essa situação nos remete enquanto categoria a lutar, a pressionar, ainda mais em um dia de hoje que é um dia nacional para que a gente faça esse debate. Precisamos cobrar!”
Futuro preocupante
Petroleiro há 17 anos, mais especificamente no setor de Inspeção de Equipamentos (IE) da Replan, Adamec Seccoli faz parte do Plano Petros 2. Além de se solidarizar com o drama vivido pelos aposentados, o trabalhador fez um alerta aos seus companheiros: “Já contribuo há 17 anos com o Petros 2 e, através de simulações, percebi que mesmo que eu me aposente com 70 anos, teria um salário de cerca de R$ 4500. Ou seja, é um cenário que aponta para problemas semelhantes aos que os aposentados enfrentam hoje”.
Seccoli também reclamou sobre a facilitação da saída do plano e retirada do dinheiro: “Temos que tomar cuidado pois essa facilitação que eles oferecem na verdade tem dois motivos: o primeiro é a retirada do vínculo. A Petrobrás não quer ter aposentados, então quando ela facilita a retirada do dinheiro do Petros 2, é porque ela não quer que você se aposente, ela não quer que você tenha um vínculo, ela quer quebrar essa memória que temos hoje. E o outro ponto é que se todo mundo tirar o dinheiro, o último não vai ter nada lá. Isso coloca em risco o plano!”.
“Então, realmente essa luta é de todo mundo. A situação dos camaradas que já estão aposentados no Petros 1 é lamentável e desesperadora, mas não pensem que quem está no Petros 2 está em uma situação boa. Não estamos! É um plano que não garante um rendimento adequado no futuro”, complementa Seccoli.
Recap e Transpetro
Na Recap, o ato também teve o espírito de união, com ato uma excelente participação massiva da base ativa, HA e Turno, e de muitos aposentados. Segundo o diretor do Sindipetro Unificado, Juliano Deptula,o ato foi bom e mostrou mais uma vez o espírito de coletividade: “É mais uma demonstração da categoria petroleira de companheirismo e solidariedade, onde a compreensão com a pauta dos aposentados e que a luta hoje vai fortalecer a Petros no futuro pra todos”.
Para a petroleira aposentada Vera Lucia Ranieri, presente no ato da Recap, todos os atos realizados hoje são fundamentais para dar visibilidade ao problema que a categoria enfrenta: “O ato de hoje é muito necessário! Todas essas manifestações de hoje são uma resposta dos aposentados e pensionistas que estão sentindo na pele esses descontos. Tem gente realmente zerado, recebendo muito pouco! Por isso todos os atos são importantes, tanto aqui, como no Rio de Janeiro e nos outros lugares. A categoria está unida por um motivo justo, que é resolver esse problema do equacionamento. E se não resolver, o movimento irá seguir”.
Já no Terminal da Transpetro de Senador Canedo, no estado de Goiás, os trabalhadores realizaram um atraso de uma hora em apoio à luta dos aposentados.