Categoria também aprovou prorrogação do acordo durante o período de pandemia

Na manhã desta quinta-feira (20), o Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Unificado-SP) promoveu em Mauá a última assembleia que ouviu a categoria sobre as propostas apresentadas pela Petrobrás para a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Com a participação de 552 trabalhadores nas regionais de Campinas, Mauá e São Paulo, os primeiros encontros presenciais após o início do isolamento social por conta da Covid-19 terminaram com rejeição da proposta de ACT apresentada pela companhia por 98,73%. Já a prorrogação do atual vigente até o fim da pandemia foi aprovada por 98,91%.
Para realizar a consulta, o Unificado seguiu todas as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), como o distanciamento entre os petroleiros, o uso de máscara e a higienização das mãos com álcool gel.
O que a Petrobrás oferece
O sindicato apontou aos trabalhadores que a Petrobrás quer mudar a relação de financiamento da Assistência Médica de Saúde (AMS) para a proporção 60% (custeio pela empresa) x 40% (trabalhador). Alteração que mexe no tabelamento de preços e pode inviabilizar o plano para muita gente, com casos de até 1.422% de elevação em pleno surto de covid-19.
A companhia ofereceu também a diminuição da hora extra de troca de turno dos atuais 75% (que já representam uma queda de 25% em relação ao ACT anterior) para 50%, inclusive em feriados, escalas de turnos e parada de manutenção. A proposta é pagar apenas dois feriados, 1º de janeiro e 25 de dezembro, e todos os demais seriam excluídos. Além de negociar a extinção do adicional de campo terrestre.

Outro retrocesso é a diminuição do número de liberados para a atividade sindical com um dirigente por sindicato e cinco para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma nítida ação para enfraquecer a capacidade de mobilização e representação da categoria.
Nossa pauta
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que negocia com a direção da empresa, segue cobrando a prorrogação do atual ACT para enquanto a situação de calamidade pública causada pela pandemia durar. Algo que já foi negado por quatro vezes.
Também fazem parte da pauta de reivindicações a prorrogação do novo acordo por dois anos, um regramento justo da AMS e a manutenção do plano gerido por RH, portanto, sem a transformação da assistência em um modelo de fundação, como desejam os gestores da Petrobrás.
O fundo garantidor dos terceirizados, eliminado na última campanha reivindicatória, é outro tema que volta à tona.
No quesito salarial, os petroleiros pedem o IPCA e mais 2% de reajuste referente a perdas dos últimos anos que não foram respostas.
Outros pontos são o aprimoramento de cláusulas de segurança de trabalho e a discussão sobre o regramento do teletrabalho, que a Petrobrás tem se negado a discutir.
De volta às bases
Coordenador Geral do Unificado, Juliano Deptula, ressalta que a base, assim como a direção, entende que a proposta da empresa não reconhece quem trabalhou para que a companhia registrasse em 2019 o maior lucro de sua história.
“A base entendeu que a proposta afeta uma série de direitos nossos, não repõe a inflação, que a diminuição das horas extras é um ataque indireto ao salário e que o reajuste da AMS prejudica justamente quem mais necessita, aqueles com idades mais avançadas e menores salários. Além de travar a organização dos trabalhadores por meio do sindicato”, apontou.
Coordenador da regional Campinas, Gustavo Marsaioli, ressaltou que o sindicato defende o isolamento social como uma medida de segurança, mas apontou que a necessidade das assembleias presenciais é responsabilidade da empresa.
Ele comentou ainda sobre a sensação ao reencontrar os petroleiros. “Foi uma mistura de sentimentos. Por um lado, foi bom reencontrar colegas de trabalho e luta, faz falta essa relação mais próxima, e conseguimos mitigar os riscos. Mas não deixa de ser contraditório ter de fazer assembleias físicas quando brigamos para que o isolamento se mantenha. Porém, essa contradição é causada pela empresa, que não quer renovar acordo e busca forçar a retirada de direitos”, definiu.
Em São Paulo, o coordenador da regional da capital, Luiz Felipe Grubba, destacou que a base aproveitou o momento para compartilhar a angústia nas relações internas que têm norteado a Petrobrás.
“Quem está trabalhando direto no terminal, diz que parece que a vida está normal, com demanda similar ou maior durante a pandemia. A Transpetro até teve atuação razoável, tentando implementar medidas, mas agora parece que a segurança se restringe ao uso de máscara e álcool gel para quem está no operacional. Sequer tem sido feita testagem”, pontua.