Demétrio Vilagra conta a história do fusca tijolinho, que foi fundamental no processo de fundação do Sindipetro São Paulo.

Histórias de Vida: Nos tempos do tijolinho

Demétrio Vilagra

Histórias de vida é uma nova sessão do Jornal dos Petroleiros e do site do Unificado para resgatar as boas histórias que temos para contar. Envie a sua

Por Demétrio Vilagra

 

Comecei a trabalhar na Petrobrás em 1971. Em 1983, era diretor do Sindicato de Paulínia, quando toda a diretoria foi cassada após a greve. Só consegui retornar para a empresa em 1985, fui reintegrado ao trabalho, mas a direção da Replan não queria mais na refinaria os “agitadores” que haviam provocado a greve dois anos antes. Assim eu, o Spis, o Jacaré e outros companheiros fomos transferidos para São Paulo.

Antonio Carlos Spis

Na base de São Paulo ainda não havia sindicato e começamos a promover no Espal algumas palestras sobre anistia, conjuntura política etc. A ditadura militar já estava enfraquecida e foi possível fazer isso sem problemas, no entanto, os colegas ainda tinham receio de se envolver, de ter problemas com a empresa, com o governo, então, era difícil entrar em alguns temas importantes, como a organização sindical.

Como ninguém em São Paulo tinha cargo eletivo ou era liberado para fazer o trabalho sindical, o jeito era partir para o esforço pessoal. Nas noites de sexta-feira, nos reuníamos em algum barzinho, discutíamos como tinha sido a semana e partíamos para Campinas.

Na manhã do sábado, nos encontrávamos na sede do Sindicato, em Campinas, e fazíamos o boletim para distribuir aos trabalhadores de São Paulo. O Spis redigia a maioria das matérias e eu operava a maquininha offset que tinha no sindicato. No domingo pela manhã, o Spis voltava para São Paulo, percorria os terminais de Barueri, Utinga e Guarulhos com o “tijolinho”, um fusca velho que ele tinha, carregado de panfletos. Na época, ele só conhecia um trajeto para os terminais e pelo menos umas duas vezes ele chegou a ligar para mim porque estava perdido. Na segunda-feira, entregávamos o boletim para o pessoal do Espal com a ajudo do Paulo Sérgio, da Mariangela e do Jacaré, entre outros companheiros. Em outra ocasião, o carro do Spis fundiu o motor porque ele não sabia que precisava trocar o óleo de vez em quando e como não tinha grana para mandar arrumar, o “tijolinho” ficou semanas parado no meio do caminho até que vieram guinchá-lo.

Ficamos fazendo esse trabalho por cerca de dois anos, íamos aos sábados para Campinas, passávamos o dia no Sindicato imprimindo o material e no domingo já estávamos distribuindo nas bases, muitas vezes com o apoio dos companheiros do Sindicato de Mauá.

Aos poucos, fomos organizando o pessoal de São Paulo. Em 1988, já participaram da greve com o restante da categoria e, assim, começou a surgir o Sindipetro São Paulo.