Petrobrás aprova pagamento de dividendos aos acionistas mesmo sem apresentar lucro

Por outro lado, a estatal tem se negado a distribuir a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) aos trabalhadores

Castello Branco cumpre sua promessa de “pensar no que é melhor para os acionistas” (Foto: Agência Brasil)

A Petrobrás informou nesta quarta-feira (28) que seu Conselho de Administração aprovou uma revisão na política de pagamento aos acionistas privados, que permitirá a distribuição de dividendos mesmo quando não apresentar lucro contábil. A partir de agora, a divisão dos recursos terá como base o endividamento da empresa no ano anterior.

Quando a dívida bruta estiver abaixo dos US$ 60 bilhões, a estatal poderá pagar dividendos adicionais acima do mínimo obrigatório ou um valor equivalente a 60% da diferença entre o fluxo de caixa e o valor dos investimentos, mesmo sem lucro contábil.

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Caso o endividamento bruto estiver acima de US$ 60 bilhões, a empresa poderá remunerar os acionistas se a dívida líquida tiver apresentado redução nos 12 meses anteriores. Atualmente, a dívida da Petrobrás é de US$ 66,2 bilhões.

Antes mesmo desta mudança, analistas do BTG Pactual já tinham classificado a Petrobrás como uma possível “máquina de dividendos” em 2021, o que é uma das principais metas do atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco.

O economista chegou a afirmar no ano passado, em entrevista concedida ao jornal O Globo após o último leilão do pré-sal, que ele tem que “pensar no que é melhor para os acionistas”.

Sem critério

Essa mudança pegou de surpresa diretores da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que estão em plena negociação do acordo de regramento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) com a Petrobrás.

No Grupo de Trabalho (GT) da PLR, os representantes da companhia negaram distribuir as respectivas parcelas dos trabalhadores nos resultados, quando não houver lucro.

“Se for uma mudança que retrate de forma mais fidedigna o resultado da empresa, esperamos que esse mesmo princípio seja garantido aos petroleiros e petroleiras no regramento da PLR, como conquistamos no passado. Os resultados do Sistema Petrobrás são construídos pelos trabalhadores e, portanto, devem ser repartidos entre todos”, afirma a diretora da FUP, Cibele Vieira, que participa do GT do regramento da PLR.

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O Acordo de Regramento da PLR pactuado com a FUP em 2014, cuja validade terminou em março do ano passado, garantia a remuneração dos trabalhadores, inclusive na ausência de lucro, desde que alcançados os resultados operacionais, conforme as metas dos indicadores estabelecidos com a categoria.

A FUP acredita que nem sempre o lucro é um indicador do resultado real da Petrobrás e, por isso, tem criticado e questionado as baixas contábeis feitas pela Petrobrás em função dos desinvestimentos e impairments. Esse, inclusive, foi um dos pontos de discordância no GT, pois a gestão condicionou a PLR ao lucro, diferentemente dos anos anteriores quando os trabalhadores receberam a parte do resultado que construíram coletivamente para a empresa.

*Com informações da FUP.

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