A nova coordenadora do Sindipetro Unificado, Cibele Vieira, fala sobre os desafios da categoria petroleira para o próximo período
Por Guilherme Weimann e Marcelo Aguilar
A partir de agosto, o Sindipetro Unificado será coordenado novamente pela petroleira Cibele Vieira, que entre 2014 e 2017 já havia se tornado a primeira mulher a ocupar essa função em toda a história da entidade.
Apesar da responsabilidade da tarefa, Vieira defende que seu principal desafio será fortalecer o sentimento coletivo da categoria – e que o movimento sindical brasileiro como um todo deveria fazer o mesmo.
Confira a entrevista na íntegra:
Na sua primeira gestão à frente do sindicato, você viveu a ascensão da Lava Jato e o golpe contra a presidente Dilma Rousseff. Como foi essa experiência?
Em março chega a Lava Jato na Petrobrás, e a gente assumiu em agosto. Ninguém tinha a dimensão de tudo o que estava por vir. Eu até brinco que me enganaram, porque uma coisa é ser sindicalista em anos de governo progressista, outra é enfrentar o que foi o início do plano de desinvestimento em 2015, o golpe de 2016, a prisão do Lula, todo o turbilhão político que veio depois. Vimos que para aguentar tudo o que estava se desenhando, como uma direção jovem, íamos precisar da ajuda dos mais experientes, e de fato eles foram fundamentais.
Na sua opinião, quais são os principais desafios que o movimento sindical como um todo enfrentará neste terceiro governo Lula?
O movimento sindical precisa fortalecer sua identidade coletiva para reorganizar e fortalecer a luta, pois sabemos que mesmo durante governos petistas nada vem de graça. O governo sofre pressão da direita, pressão do Centrão, e deve sofrer pressão nossa. Uma coisa é governo, outra coisa é partido e outra coisa é movimento sindical.
Quais são os desafios específicos da categoria petroleira?
O principal desafio é fortalecer o coletivo, reforçar esse caráter na nossa categoria. Tentaram impor o ‘cada um por si’, atacando a luta coletiva. Por isso, atacaram também os aposentados e pensionistas através da AMS e a Petros: porque eles são a memória coletiva da categoria. Tentaram separá-los da ativa, como se a gente fosse uma categoria sem história, mas não conseguiram, porque resistimos e continuaremos resistindo. Precisamos voltar a valorizar a negociação coletiva, e abrir a caixa preta das regras que a empresa tirou da cabeça dela e que dão cada vez mais poderes à gestão, trazendo tudo para regras coletivas, negociadas com os sindicatos.
O que você aprendeu individualmente desde a sua saída da coordenação do Sindipetro Unificado que pretende colocar em prática nos próximos anos?
Em 2014, a gente era uma geração de petroleiros que achava que não era possível perder, que estávamos consolidados. Passados esses anos, a gente aprendeu na prática que nada está garantido e que a institucionalidade não resolve nossos problemas. O jurídico, o Congresso, tudo está subordinado à visão política do país, e ainda mais numa estatal como a nossa. É muito importante não perder isso de vista em momentos em que parece que os ataques vão ser menores. É preciso aproveitar esse tempo para fortalecer nossa organização, porque quando a conjuntura mudar de novo, e vai mudar em algum momento, eles vêm com tudo pra cima de nós.