“O exército entrou numa arapuca no governo Bolsonaro”, afirma ex-ministro da Defesa

Em live organizada pelo Sindipetro Unificado, especialistas discorreram sobre geopolítica e o papel do Exército no atual governo

Por Guilherme Weimann

Nesta sexta-feira (24), o Sindipetro Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP) organizou a terceira rodada de debates com transmissão ao vivo pelas redes sociais. Com mediação do jornalista Luiz Carvalho, a live contou com a participação do ex-ministro da Defesa e Relações Exteriores, Celso Amorim; o professor titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), João Roberto; e a dirigente sindical do Unificado e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira.

Com o tema “A crise nas instituições no Brasil e no mundo”, os convidados se debruçaram, principalmente, em como o Brasil tem se colocado nas questões geopolíticas e qual o papel do Exército no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Atualmente, os militares controlam oito dos 22 ministérios.

Apesar da presença orgânica nas principais pastas do executivo, o professor João Roberto não caracteriza o atual governo como militar. “A impressão que eu tenho sobre os generais que estão no governo é de uma certa arrogância, na qual eles acreditam que podem controlar o governo quando quiserem. Mas, justamente por isso, não acredito que seja um governo militar, porque eles não têm nenhum controle sobre a família Bolsonaro”, explica.

Na mesma linha, o ex-ministro Celso Amorim enxerga uma dicotomia dentro das Forças Armadas. “Existe uma presença orgânica do Exército num governo que ele não consegue organizar. O [comandante das Forças Armadas] general [Edson Leal] Pujol sempre fez questão de demarcar uma independência, mas isso ficou um pouco borrado com a presença do [Walter] Braga Netto na Casa Civil. Entretanto, essa diferença volta mais forte nesse momento”, opina.

A dirigente da FUP, Cibele Vieira, chamou atenção para a explicitação das divergências internas deste governo com o lançamento do programa Pró-Brasil, que se inspira no Plano Marshall, mantém características muito semelhantes ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e será comandado pelo general Braga Netto. “O Exército ainda guarda sua ideologia estadista e desenvolvimentista? Esse plano vai de frente com a ideologia liberal do [ministro da Economia] Paulo Guedes”, aponta.

Pantomina política

De acordo com Amorim, o Brasil está vivendo uma “pantomina política” quando as desavenças entre ministros e Bolsonaro se sobrepõem ao combate à pandemia do coronavírus. Nesse cenário, para o ex-ministro, “o exército se meteu numa arapuca que não sabe como vai sair”, e completa: “Eles queriam tutelar, mas estão sendo tutelados”.

Ainda para o ex-ministro das Relações Exteriores, que conduziu a aproximação do Brasil com a China durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o país perdeu espaço na diplomacia internacional neste governo. “O Brasil era visto como um líder, mas agora é conhecido como um país que cria problemas”.

Confira abaixo o vídeo completo:

Posts relacionados

Dia histórico: Após quatro anos de luta, petroquímicos retornam à Fafen-PR

Maguila Espinosa

Petrobrás antecipa dividendos recordes em último ano de governo Bolsonaro

Guilherme Weimann

Petroleiros anistiados políticos: Derrotar Bolsonaro para enterrar a ditadura

Guilherme Weimann